A instalação de uma empresa de reciclagem e transformação de pneus no pavilhão de uma antiga fábrica de movéis, em Vilar dos Prazeres, Ourém, está a alarmar a população e autarcas. A fábrica iniciou os testes em Setembro e os impactos motivaram reclamações dos moradores, que se queixam de cheiros “insuportáveis” e dos fumos e da fuligem expelidos da chaminé.
O caso foi denunciado na última Assembleia Municipal de Ourém (AMO) e motivou já uma exposição enviada por este órgão autárquico a pedir a intervenção “urgente” da Agência Portuguesa do Ambiente. Por seu lado, os moradores fizeram uma participação ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente da GNR e tencionam avançar com uma queixa-crime junto do Ministério Público.
Entretanto, na segunda-feira, a empresa, que o JORNAL DE LEIRIA não conseguiu contactar, promoveu uma visita aberta à população e aos órgãos autárquicos locais. Segundo o presidente da Junta de Nossa Senhora das Misericórdias, Luís Oliveira, os representantes da empresa alegaram que, até agora, apenas fizeram testes, com “as máquinas no limite”, e reconheceram que “alguns correram mal”.
“Prometeram que irão afinar os processos, dizendo que os testes servem para isso, e que irão avisar quando fizerem os próximos testes, que, segundo eles, não terão fumos nem cheiros”, adianta o autarca, que diz continuar “preocupado”.
Também José Pereira, morador que expôs o assunto na AMO “em representação das comunidades de Vilar dos Prazeres e do Caneiro”, as povoações afectadas com a situação, se confessa “inquieto” e “muito assustado”.
“Com o que vimos nas últimas semanas não é para menos. Houve fuligem e fumo preto e denso a sair por uma pequena chaminé com 20 ou 30 centímetros de diâmetro, que se acumulou nos terrenos e nas linhas e água, contaminando o ambiente”, conta ao JORNAL DE LEIRIA, assumindo-se também apreensivo com o facto de estar previsto que o “gás derivado do processo de transformação dos pneus” seja armazenado “em depósitos subterrâneos a cerca de 20 metros de habitações”.
“Uma empresa desta natureza não pode estar implementada no meio de um aglomerado urbano”, defendeu José Pereira, durante sessão da AMO. Na ocasião, o presidente da câmara de Ourém revelou que técnicos do município já se deslocaram ao local e “detectaram que a chaminé libertava fumo bastante escuro” e que era “perceptível um cheiro intenso a gás”.
Na sequência dessa visita e das participações recebidas, a câmara enviou, no dia 20 de Setembro, um ofício à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, entidade que “licenciou aquela indústria naquele local sem sequer dar conhecimento à câmara” criticou Luís Albuquerque.
“O que nos parece é que a empresa de green [verde] nada tem além do nome”, ironizou o presidente da AMO, que classificou as imagens que mostram a proliferação de fuligem de “uma enorme gravidade”.