A população de Reguengo do Fétal, no concelho da Batalha, está indignada com o corte de dezenas de carvalhos, alguns centenários, no âmbito dos trabalhos de limpeza que a e-Redes tem em curso na freguesia junto às linhas eléctricas.
A intervenção, em área de Rede Natura 2000, é também contestada pela Junta de Freguesia e pela câmara, que já comunicou o caso ao Serviço de Protecção da Natureza e do Ambiente (SEPNA) da GNR.
Além do abate das árvores, numa das maiores manchas de carvalho da região Centro, os moradores contestam a falta de informação, alegando que o corte aconteceu “à revelia” de muitos dos proprietários. “É uma dor de alma”, desabafa Margarida Ferreira, que diz “não compreender” o tipo de intervenção, com o corte “raso” dos carvalhos.
No seu caso, conseguiu, para já, “salvar” um exemplar de grande porte que está num terreno seu dentro da área abrangida, no qual colocou um aviso a informar que não autoriza o corte, mas teme que acabe por ser abatido.
“Podemos cortar umas braças, mais próximas das linhas. Deitar abaixo, não”, defende.
Engenheiro do ambiente, Miguel Santos alega que “fazer gestão de combustível não obriga à limpeza de todo o coberto vegetal, como aconteceu neste caso”. O técnico frisa que o carvalho, pela sua “resiliência” ao fogo, é “benéfico no controlo e progressão” de incêndios, sobretudo quando inserido em espaço agro-florestal, “como é o caso”, com a mancha de carvalho a co-existir com áreas agrícolas, nomeadamente, alguma vinha e olival. “Não consigo entender o tipo de limpeza efectuada. Ou é excesso de zelo ou desleixo de quem anda no terreno”, critica.
A mesma perplexidade é partilhada por outra moradora, que lembra que os carvalhos “já existiam antes da instalação das linhas eléctricas” e que acredita que era possível conciliar as questões de segurança com a preservação das árvores, através limpeza dos matos e do corte de braças que representassem mais perigo.
Fernando Lucas, presidente da junta, conta que a autarquia recebeu editais da e-Redes, comunicando a realização de trabalhos de limpeza debaixo das linhas de eléctricas. “Parti do princípio que seria como nas anteriores intervenções, com desmatações e sem mexerem nas árvores”, diz, confessando-se “surpreendido” com os trabalhos efectuados.
“Não é um bom exemplo. Limpar é uma coisa. Coisa, diferente é cortar tudo. Esta mancha de carvalhos, uma riqueza da freguesia, fica mais pobre”, lamenta.
Admitindo que a intervenção possa ter cobertura legal, João Tomás, do grupo ambiental Aves da Batalha, está convicto que a “agressividade do corte podia ter sido menor”. No seu entender, este é um assunto que deve ser discutido “a nível nacional”, com a definição de critérios “mais apurados” para este tipo de intervenção, contrabalançando a preservação dos recursos naturais com as questões de segurança, associadas ao risco de incêndio e à garantia do abastecimento energético às populações.
O presidente da Câmara da Batalha, Raul Castro, adianta que o município “alertou o SEPNA” e que aguarda pela investigação.