A população do Juncal, no concelho de Porto de Mós, está preocupada com a instalação de uma central fotovoltaica na freguesia, que irá obrigar à desmatação de 20 hectares floresta.
Numa sessão de esclarecimento realizada recentemente, que contou com a presença de cerca de cinco dezenas de pessoas, os moradores alegaram que se irá “destruir” uma zona que funciona como “pulmão verde” da freguesia e manifestaram- se preocupados com a proximidade da central a algumas habitações e com eventuais problemas no escoamento de águas, atendendo à “orografia do terreno”.
Em resposta, os representantes da Tecneira, a empresa que irá instalar o parque, já aprovado, asseguraram que o projecto “cumpre todos os requisitos legais” e que a instalação dos painéis será feita com “estacas simples”, permitindo que a água se infiltre “naturalmente” no solo.
Por seu lado, o presidente da câmara, Jorge Vala, sublinhou que o município “não tinha como dar parecer negativo ao projecto”, uma vez que o Plano Director Municipal (PDM) prevê que em terrenos de Reserva Ecológica Nacional, como é o caso, possam ser instaladas unidades de produção de energia renovável.
Em causa está uma central fotovoltaica com capacidade para produzir 19 GWh (Gigawatt hora), suficientes para fornecer energia a cerca de 5.800 habitações, revelou João Ramos, engenheiro da Tecneira, durante a sessão.
O técnico avançou ainda que os 20 mil painéis irão ocupar 20 dos 37 hectares de terreno afectos ao projecto e que a central terá uma “vida útil de 30 anos”, findo os quais será “desmantelada”. Segundo o representante do promotor, esta central permitirá “evitar a emissão de 7.235 toneladas de dióxido de carbono (CO2) por ano”.
“Sustentabilidade não é só ter energias renováveis. É também ver o impacto negativo que este tipo de projectos pode ter no ambiente e nas comunidades”, contrapôs Cristina Rosa, uma das moradoras que interveio na sessão, salientando que a “floresta que vai ser destruída” também “absorvia CO2”. A munícipe chamou ainda a atenção para o “risco de erosão” que considera estar associado ao projecto, pelo que devia ser efectuado um Estudo Impacto Ambiental (EIA).
O presidente da câmara alegou que o município também defendeu a realização dessa avaliação, mas tanto a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) como a Agência Portuguesa do Ambiente dispensaram o projecto de EIA, por a dimensão ser inferior àquela que a legislação define como critério para que a avaliação ambiental seja obrigatória.
Reconhecendo que “os donos do terreno têm o direito de tirar lucro do investimento que fizeram”, João Manuel Coelho, ex-presidente da Junta do Juncal, confessou-se “triste’por a freguesia ir “perder um pulmão verde e uma zona de desenvolvimento futuro”.
Em resposta, Jorge Vala lembrou que os terrenos “são privados” e que os seus proprietários podiam “cortar as árvores e não reflorestar”.
Por outro lado, a área em causa “não é desafectável” da REN, pelo que, “não se pode considerar que esta é uma zona de expansão da freguesia”, reforçou o presidente da câmara.