Nos dias agitados que vivemos, poucos temas são tão mediáticos, universais e polémicos quanto o da imigração. E Portugal não escapa a este fenómeno que nos entra em casa diariamente, nos media, nas redes sociais e nas conversas que vamos tendo por aí. Poucos são os que não têm uma opinião convicta sobre o que fazer com os que já cá estão, os que podem ou devem vir e o que fazer com todos.
Também no atletismo existem imigrantes que nos procuram para prosseguir as suas carreiras, regra geral sem problemas de maior. O seu contributo para a melhoria e evolução do atletismo nacional é inegável e não falo só dos que se naturalizam, mas também dos que nos procuram para efetuar a sua preparação, que cá treinam e vivem embora representem os seus países de origem. E quanto aos que vieram e hoje vestem as cores lusas nas grandes competições, quem pode negar que são motivo de orgulho para todos nós?
Ainda recentemente nos Europeus de Roma, das 3 medalhas que trouxemos, duas foram da responsabilidade de quem nasceu fora das nossas fronteiras e escolheu representar-nos. Hoje são portugueses de pleno direito e estou convicto de que, com maior ou menor simpatia pessoal, olhamos para eles dessa forma.
Como olhámos em tempos para Francis Obikwelu, nascido na Nigéria, que antes de ser português andou a trabalhar nas obras e sem saber se algum dia conseguiria ser atleta. Ou para Nelson Évora que chegou a Portugal com 5 anos, da Costa do Marfim onde nasceu, filho de cabo-verdianos. Ou ainda da Auriol Dongmo, nascida nos Camarões, que escolheu Leiria e Portugal para viver e que tantas alegrias nos tem dado? Deveríamos tê-los expulsado ou mantê-los na clandestinidade ou fizemos bem em os acolher e integrar dando-lhes condições para que hoje façam parte da nossa história?
Poderia dar mais exemplos desta realidade que não é só nacional nem exclusiva do atletismo, mas que deveria levar-nos a refletir antes de tomarmos posição sobre um assunto tão delicado, porque envolve seres humanos que não escolheram o seu local de nascimento e que apenas procuram uma vida melhor para si e para os seus.
Não fizeram o mesmo muitos dos nossos compatriotas durante o Estado Novo por razões políticas ou para fugir à Guerra Colonial? Ou os que durante séculos saíram deste cantinho e foram por esse mundo, das nossas colónias em África até ao Brasil, aos EUA, à Ásia, em busca de uma vida melhor?
Fomos e somos um País de emigrantes e sempre aceitámos isso com naturalidade e até uma pontinha de orgulho. Daqui a um mês, na comitiva olímpica, vão desfilar muitos imigrantes e filhos de imigrantes que procuraram refúgio e abrigo no nosso País e que vão vestir o equipamento de Portugal no maior evento do mundo. O que escolhermos ver dirá mais sobre nós do que sobre eles.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990