“A certa altura cansei-me de estar sempre bandeira vermelha, vento, às vezes frio. Nas praias fluviais, para quem gosta de nadar, é sempre garantido”. Filipa Pereira resume essa opção pelo rio em tempo de descanso, que tomou vai para cinco anos.
Como ela, muitos são os que optam por fugir da confusão das praias da região e rumar ao interior (sobretudo) onde as águas do rio são mais calmas que as ondas do mar, e tudo parece mais sereno. Filipa descobriu as maravilhas do rio quando nasceu o primeiro filho, agora com cinco anos.
Ela e o marido começaram por descobrir o país numa autocaravana, e quando vieram os filhos tudo fez ainda mais sentido: entre estacionar, percorrer o trajecto (por vezes longo) com “a tralha às costas”, montar chapéu, abancar no areal e depois “esperar que o mar, por sorte, desse para entrar”, foi uma logística que começou a cansar a jovem mãe.
Às tantas, percebeu que o tempo era de muito mais qualidade quando optava pelas praias fluviais. “O Pedro agora tem cinco anos, desde que tenha braçadeiras já o deixo andar à vontade”, conta Filipa, que por gostar tanto de nadar acabou por se tornar fã do rio, seja lá onde for.
Entretanto, a família cresceu. Também a filha mais nova, de apenas um ano e meio, já se banha nas águas frescas das praias fluviais. As preferências vão para a barragem do Cabril (Pedrógão Grande), Castelo de Bode e Góis, na zona centro do país.
“Fugimos daquelas que têm muita gente, quanto mais natural melhor, quanto mais sossegado melhor”, sublinha Filipa Pereira. O Turismo do Centro elenca e promove apenas as que têm bandeira azul.
Mas, na verdade, há muitos rios transformados em recantos fluviais, espalhados pelas aldeias do distrito de Leiria, que não estão ainda contemplados com a classificação de praia. Exemplo disso é o Casconho, já no concelho de Soure, distrito de Coimbra, mas na continuação do mesmo rio Anços que atravessa a Redinha, e onde a criançada gosta de mandar mergulhos no Verão, num registo similar ao do rio Lis, nas Cortes.
Apesar de muitas vezes apelidada de praia fluvial, a beirario da Redinha não é nada disso. “Temos a ideia de um dia o fazer, mas não existe ainda qualquer projecto”, disse ao JORNAL DE LEIRIA Paulo Duarte, presidente da Junta de Freguesia. Ainda no concelho de Pombal, na freguesia de Vermoil, há uma parte do rio Arunca que também é bastante utilizada pelos mais novos.
A Junta chegou a pensar num projecto que transformasse a zona numa praia fluvial, mas acabou por não avançar. Rumando ao norte do distrito, o que não faltam são praias fluviais – algumas já demasiado procuradas para quem gosta do conceito rio-natureza-tranquilidade. Em Figueiró dos Vinhos, a praia de Aldeia Ana de Aviz é uma das mais antigas, embora não tanto como as Fragas de São Simão, esse local idílico. Juntam-se Poço Corga (Castanheira de Pera), e Mosteiro (Pedrógão Grande).
De resto, toda a Ribeira de Alge é bastante apreciada pelos amantes do rio, e dos desportos náuticos. É ali, no Norte do distrito, que fica um dos espaços mais emblemáticos da praia com rio: a albufeira do Cabril, em Pedrógão Grande (ver texto na página seguinte).
Carlos Alberto Silva, natural de Pombal e há muitos anos residente em Leiria, tornou-se amante do conceito quando os filhos eram crianças, nos anos 1990. “Tínhamos por hábito frequentar certas praias fluviais da região. A que mais visitávamos era a da barragem do Cabril, onde acampámos várias vezes. Mas também as Fragas de São Simão, em Figueiró dos Vinhos, e vários pontos da barragem de Castelo de Bode, principalmente na zona de Dornes”, conta ao JORNAL DE LEIRIA o professor, que nesse tempo também era jornalista.
“Algumas das nossas férias estivais eram programadas para conhecer o ‘Portugal desconhecido’ do interior. Íamos de parque em parque de campismo, preferencialmente perto de praias fluviais e barragens”, aponta Carlos Silva, que recorda desse tempo um épico Verão: “começámos no Cabril, passámos pela barragem de Idanha- a-Nova, depois por Vila Flor – aproveitando para conhecer as gravuras de Foz Côa -, a seguir, assentámos arraiais no parque de campismo da praia fluvial do Rabaçal (Valpaços) – onde nessa noite presenciámos um incêndio florestal pavoroso -, e terminámos no Gerês”.
O outro lado da natureza. Embora goste também muito das praias “de mar”, Carlos Alberto Silva sustenta que as praias fluviais são menos “turísticas, menos concorridas e permitem uma maior comunhão com a natureza. A calma e o silêncio ajudam a recarregar baterias, depois de um ano de trabalho, ou apenas para passar um bom bocado e refrescar com um mergulho, num dia quente de Verão”.
Catarina Mamede descobriu as Fragas de São Simão há cerca de quatro anos, e ficou devota da praia fluvial. Recentemente empenhou-se no projecto de divulgação da zona, a partir de um alojamento no Casal de São Simão.
“Apresentamos a aldeia, cozinhamos para as pessoas que vão, e depois fazemos um percurso de 45 minutos até às Fragas. No regresso, utilizamos um caminho de apenas 15 minutos. Assim as pessoas ficam a conhecer mais do que a praia fluvial”, conta ao JORNAL DE LEIRIA.
Praia vigiada. Qualidade da água monitorizada. Bons acessos, sinalização, parque de estacionamento e de merendas, sanitários. Tem parque de campismo, que inclui uma piscina. Espaço para caravanas
Quem gosta do conceito diz que há poucos espaços fluviais com água tão fresca como a piscina flutuante da barragem do Cabril, graças ao caudal do rio Zêzere.
Na albufeira, que resulta de uma das maiores represas do País, há duas piscinas de dimensões diferentes, a pensar nos mais pequenos. Há uma rampa de acesso a embarcações com capacidade para cerca de 20 barcos.
A pesca (em especial de achigã) é uma das atividades possíveis ao fim-desemana. Apesar dos incêndios que fustigaram toda aquela região, a barragem mantém-se envolta em verde, à conta das acácias, pinheiro bravo, oliveira (e eucaliptos, também).
Além disso, há o parque de campismo da Eventur (organização e eventos de Turismo), com a sua própria piscina, ali bem perto. Fica em Vale de Góis, e dispõe de balneários, bar e mercearia, churrasqueiras e área de serviço para autocaravanas, na sequência da recente revitalização.
Para quem vai apenas de fim-de-semana, ou de passagem, há também o restaurante Lago Verde, com uma vista magnífica sobre o Cabril. Mas à volta existe um parque de merendas que também convida a belos piqueniques. É tudo uma questão de gosto.
Praia vigiada. Água monitorizada. Dois restaurantes e relvado. Parque infantil. Acessibilidades e estacionamento para cidadãos com mobilidade reduzida.
É uma das descobertas mais recentes dos amantes do rio e dos encantos das praias fluviais, uma das três que o concelho de Pedrógão Grande integra, sendo que uma delas não entra no roteiro oficial.
Trata-se da Mega Fundeira, um pequeno espaço que a Câmara ajardinou recentemente, e que é considerada pela autarquia como “uma das mais acolhedoras pela sua localização, pela qualidade da água, pelo espaço museológico e até pela esplanada na sombra da latada de videiras, em frente ao moinho”.
Mas falemos do Mosteiro: é uma praia concessionada (ao contrário do Cabril), vigiada, um espaço verde em que o bar de praia está instalado num antigo lagar de azeite, devidamente recuperado.
Há ainda para visitar um moinho de rodízio, recuperado no âmbito do Projecto de Promoção e Requalificação dos Ecossistemas Ribeirinhos de Pedrógão Grande. De resto, pela presença de moinhos de rodízio (a cada 500 metros ao longo da ribeira) percebe-se a importância que teve a indústria da moagem naquele concelho.
É uma das praias que estao integradas na rede das praias fluviais do Pinhal Interior Norte, e tem a capacidade de oferecer aos visitantes um conjunto de actividades de cariz cultural e desportivo.
FRAGAS DE SÃO SIMÃO
Praia vigiada, e com os galardões de bandeira azul e acessível. Bar/restaurante aberto todos os dias, sanitários com chuveiro
Apesar de muito procurada no Verão (não vá à espera de encontrar um paraíso bucólico, em que só ouça os pássaros e a água a correr na cascata), a praia fluvial das Fragas de São Simão é uma das belezas maiores da natureza do distrito de Leiria, que vale muito a pena visitar.
Situada nas proximidades do Casal de São Simão (uma das aldeias de xisto, cujas casas foram alvo de recuperação nos últimos anos), a praia aparece em todos os roteiros de beira-rio. No futuro, tem tudo para se tornar um pólo turístico, o que não agradará aos que a admiram por ser ainda resguardada de massas.
A Câmara de Figueiró dos Vinhos vai avançar com um projeto de valorização da aldeia, com um passadiço entre a localidade, o miradouro e a praia fluvial.
“O projecto vai conseguir segurar o turista, que vai poder, a partir do miradouro, percorrer todo o percurso, usufruir da aldeia, do restaurante e da praia fluvial", disse Jorge Abreu, presidente da Câmara, quando em Março último assinou com o Governo o contrato no âmbito do programa Valorizar, no valor de 400 mil euros.
O resto a natureza já fez, há muitos anos. A água da Ribeira de Alge (que passa a caminho do Zêzere) é tão límpida que se vislumbram as pequenas pedras, no interior.
Praia não vigiada. Estacionamento, parque de merendas, bons acessos. Sanitários e bar de apoio. Os passadiços em madeira que a circundavam foram destruídos no ano passado pelo fogo e ainda não reconstruídos. Não tem apoio específico para cidadãos com dificuldade de locomoção. Água semanalmente monotorizada, apesar de não ser considerada uma praia fluvial pela APA e ICNF
Na Primavera deste ano, mesmo a tempo de abrir a época balnear, o grupo de amigos da Lagoa da Ervedeira constituiu-se em associação. Virgílio Cruz, que há muitos anos é um autêntico guardião da Lagoa, ficou como vice-presidente.
É ele quem sabe todos os segredos daquele paraíso perdido na freguesia do Coimbrão, a caminho da Praia do Pedrógão. Em Outubro passado, foi um dos locais fustigados pelo incêndio que destruiu grande parte do Pinhal de Leiria.
“Quem viu a Lagoa como era e a vê agora fica desolado. Mesmo assim, continua muito bela”, diz Virgílio, que acredita num projecto municipal para a recuperação (a breve prazo) dos [LER_MAIS] passadiços em madeira. É ele o proprietário do único bar que ali funciona, e é ele quem zela pelas casas de banho (públicas) instaladas na antiga casa da guarda florestal, ao abrigo de um protocolo com a Junta do Coimbrão e o Município de Leiria.
Lamenta que as entidades públicas que tutelam esta área (ICNF e APA) não a reconheçam como praia fluvial, por forma a ser vigiada. E desfaz os mito: “a lagoa não é perigosa nem é água choca.
Tem zonas de banho perfeitamente seguras, e uma alga própria que purifica a água”. Em dias de vento e mar bravo, é bastante procurada pelos veraneantes.
SALIR DO PORTO
Praia vigiada. Bons acesso, parque de estacionamento, água monitorizada. Sanitários e balneários, bar de apoio, complexo de piscinas. Alojamento local nas proximidades
Da continuação da baía de São Martinho do Porto no encontro com o rio Tornada nasceu a praia fluvial de Salir do Porto. “É uma água mineral óptima para o aparelho digestivo e também para doenças de pele”, sublinha o presidente da Junta de Salir do Porto, Arnaldo Custódio.
De resto, é esta autarquia do concelho de Caldas da Rainha que se responsabiliza pela manutenção do espaço, e que suporta a vigilância: tem dois nadadores-salvadores em permanência no local. Além disso, o espaço contempla um complexo de piscinas (concessionado à Orbitur), com um bar de apoio a toda a zona.
“Eu sou suspeito, mas diria que é uma zona muito agradável, com características únicas no nosso país e talvez na Europa, graças à maior duna, que aqui temos”, explica. De resto, na zona de Salir há também alojamento local que permite a estadia para quem aprecia ficar mais do que um dia.
O passadiço que atravessa o rio e vai até São Martinho do Porto é um dos atractivos daquela praia fluvial. Nos períodos de maré vazia a praia é bastante apreciada pelos mais pequenos, que ali podem brincar à vontade. Quando a maré enche, são os amantes dos mergulhos que mais a apreciam.
AGROAL
Praia vigiada. Bons acessos, mas sinalética ainda deficiente para lá chegar. Estacionamento, restaurante e bar de apoio. Policiamento. Água monitorizada. Parque de merendas
No limite dos concelhos de Ourém e Tomar, o rio Nabão exibe-se em todo o esplendor com a nascente do Agroal. Há uma verdadeira legião de fãs daquelas águas que muitos asseguram ser termais, especialmente indicadas para doenças da pele.
“Quando era miúda passávamos duas semanas lá, numa casa velha, sem nenhumas condições. Nem sequer havia luz. Mas voltava de lá quase sem manchas da psoríase (uma doença crónica de pele)”, conta ao JORNAL DE LEIRIA Ana Teresa Santos, 46 anos, que ainda hoje não encontra melhor alívio para a comichão que “aquelas águas tão frias”.
As condições de hospitalidade eram o ponto fraco da praia fluvial localizada na União de Freguesias de Freixianda, Ribeira do Fárrio e Formigais, concelho de Ourém. A Câmara resolveu-o na última década, paulatinamente, através da requalificação do espaço.
A piscina (onde é proibido saltar ou mergulhar) tem uma profundidade entre 90 cêntimetros e 2,7 metros. Apesar de fria, a água é tão cristalina que quase faz esquecer eventuais choques térmicos, ao primeiro contacto.
No espaço circundante, que também integra a Rede Natura 2000, fica o Parque Natureza do Agroal, dando a conhecer, através das actividades do Centro de Interpretação Ambiental do Agroal e Alto Nabão e dos percursos pedestres, a geologia, a flora e a fauna do local.