O ramo da construção e das obras públicas enfrenta dois problemas que podem vir a ter consequências nefastas para a prossecução das metas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Por um lado, os prazos demasiado curtos para responder a concursos com financiamento do PRR e, por outro, a dificuldade em conseguir mão-de-obra qualificada.
O presidente da Aricop – Associação Regional dos Industriais de Construção e Obras Públicas de Leiria e Ourém é crítico do modo como a Administração Pública lança concursos públicos, com prazos muito apertados para submissão de candidaturas.
José Luís Sismeiro conta que as empresas de construção têm de analisar documentos oficiais, pedir informações e deslocar-se aos locais para estudar as características físicas da obra, em tempo recorde.
“A maioria das empresas não têm capacidade para responder à velocidade pretendida. No jantar de aniversário da Aricop, mencionei um caso com que me deparei, de uma obra cujo concurso saiu no Diário da República a uma quinta-feira e era exigido que os concorrentes enviassem as suas propostas com todos os pontos solicitados até à terça seguinte. Em quatro dias, não se consegue estudar o dossiê”, refere, sublinhando que há o perigo de prejuízo para o construtor.
A Aricop já preparou uma exposição que aborda estas questões, alertando o IMPIC para estas dificuldades.
José Luís Sismeiro também não vê com bons olhos o facto de as obras ¤nanciadas pelo PRR estarem todas a decorrer em simultâneo.
“Deveria ter havido capacidade de planeamento para que o investimento se prolongasse por um período temporal maior”, diz.
Pouca mão-de-obra resultará em escalar dos preços O presidente da Aricop diz que a situação de falta de mão-de-obra é muito grave, numa actividade onde abundam os processos manuais especializados.
“A ideia de que qualquer um vai trabalhar para a construção civil não está correcta. Os chefes de equipa e os pedreiros de primeira são trabalhadores muito experientes, que levam entre cinco a seis anos a serem formados profissionalmente.”
Assim, José Luís Sismeiro sublinha que a ausência de mão-de-obra quali¤cada obriga a uma “ginástica” muito grande.
“A aprendizagem dos novos pedreiros é feita em colaboração com um pedreiro experiente e, em média, os trabalhadores nesta pro¤ssão têm cerca de 60 anos, pessoas em quem a paciência já não é grande”, afirma.
A continuar a situação, teme que a mão-de-obra resultante da imigração não tenha capacidade de resolver a quebra de pro¤ssionais na construção com a celeridade necessária, devido às diferenças culturais e a di¤culdade em formar pessoas mais velhas.
“Temos de formar quem já cá está”, diz.
Dentro de cinco ou seis anos, prevê que os preços vão “escalar ainda mais”, porém, crê na possibilidade de fazer os adolescentes “acreditarem no sector” e desejarem trabalhar na construção, em vez de noutras pro¤ssões que, embora mais intelectuais, têm ordenados inferiores.
“Vai ser cada vez mais interessante trabalhar na nossa área”, prevê.