Em Dezembro, a Comissão Europeia reconheceu a denominação Arroz Carolino do Baixo Mondego como Indicação Geográfica Protegida.
No Louriçal, a criação desta figura é vista como uma mais-valia, contudo os produtores avisam que apenas atingirá o seu potencial, caso o consumidor reconheça o que está a comprar e se o Estado aproveitar o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para ajudar com os investimentos cruciais que, há décadas, não saem do papel.
“O nosso é um arroz rico, com mais goma e paladar, graças à combinação da qualidade dos solos e do clima local”, explica o presidente da Junta de Freguesia do Louriçal, José Manuel Marques, que, ao longo dos anos tem lutado pelo reconhecimento e promoção do arroz carolino da região.
Hoje, são as máquinas que preparam os terrenos, substituindo os membros de músculos rijos como cordas nos trabalhos mais pesados e reduzindo a mão-de-obra necessária.
Com o preço por quilo pago ao produtor a não passar dos 40 cêntimos, gostariam de ver feito o emparcelamento de terrenos, prometido desde os anos 60, mas jamais concretizado.
A reorganização da propriedade permitiria as necessárias obras de regularização dos níveis de água nos campos de arroz, uma melhoria na fertilização, a retirada de marachãos e seu aproveitamento e até usar aviões na agricultura.
Porém, explica o presidente da Junta de Freguesia do Louriçal, o projecto tem avançado e recuado e não chega, sequer, ao papel sob a forma de projecto.
José Pereira é orizicultor e gostaria de ver, por fim, o emparcelamento realizado. Uma obra que poderia ajudar a amenizar alguns dos efeitos que sente num clima cada vez mais instável.
No ano passado, teve de lidar com uma onda de calor fora de tempo que prejudicou a produção.
“Também estamos a sentir o impacto da subida dos combustíveis e dos produtos associados. Este ano, vai ser um pesadelo!”
Desde a última sementeira, o preço do adubo aumentou cerca de dez euros por saco. “Para cada hectare, são necessários cerca de 500 quilos de adubo e cada saco tem 25 quilos. É fazer as contas.”
Normalmente, o preço de produção por hectare ronda os mil euros, mas o valor pago ao produtor mantém-se em valores baixos.
“Cada quilo ao consumidor custa o preço de dois cafés [cerca de 1,5 euros]. Ora, um quilo de arroz dá para 12 refei- ções a 15 cêntimos cada uma. Ao agricultor, pagam o quilo a menos de 40 cêntimos.”
Mais ou menos o valor de meio café. “Recebi na colheita de 2021 a 38 cêntimos o quilo. Ou seja, 380 euros a tonelada.”
Em Portugal, anualmente e segundo a estatística europeia, produzem-se 160 mil toneladas de arroz por ano, o País é o terceiro maior produtor na UE e cada português consome cerca de 15 quilos de arroz por ano, o maior consumo europeu per capita.
Números que levam José Pereira a declarar que o Estado poderia aproveitar o dinheiro do PRR para a obra. Em resultado da indefinição, há cada vez mais pessoas a abandonar o sector.
Pelas contas do presidente da Junta do Louriçal, há, nesta freguesia do concelho de Pombal, apenas quatro grandes produtores e não mais de uma dezena de pequenos orizicultores.
Há ainda um excesso de legislação e burocracia que penaliza a agricultura e a gestão ambiental, mas que desculpabiliza e permite passar a batata entre agências e organismos do Estado.
“O arroz era a grande riqueza da nossa população”, recorda José Manuel Marques que aponta que outros sectores ficariam a ganhar. Na sua visão, por exemplo, o ecoturismo beneficiaria e a gastronomia também.
“Apesar dos preços baixos, é uma actividade que vale milhões”, resume.
Destruição do Pinhal de Leiria reduziu produção de arroz
Nuno Guilherme é um dos dois produtores de arroz da região do vale do Lis. É o único que é natural e está estabelecido no concelho de Leiria. O arroz do Lis está fora de qualquer região demarcada.