Olá paizinhos com olheiras até aos joelhos e latidos crónicos do tímpano ao cerebelo. Vocês também costumam acordar com vontade de arranjar problemas? Não? Ainda bem.
Antes de beliscar a genitália sensível dos haters profissionais deixem-me ir a um lugar-comum para vos dizer que amo os meus filhos incondicionalmente e que a felicidade deles é a minha felicidade. E, a não ser que por algum motivo vindo directamente do Demo se transformem em pessoas execráveis, será para sempre assim. É, eu acredito na força dos laços de sangue mas até eles não aguentam tudo.
Dito isto, quero-vos confidenciar que ando numa conversa prolongada com uma amiga minha que pertence ao clube dos modernos super liberais do qual eu gostaria de fazer parte mas não consigo.
É tramado e difícil ao mesmo tempo. Basicamente ela diz que para mim deveria ser igual os meus filhos serem homossexuais ou hétero. É mas não é. É no amor que lhes tenho e que lhes quero dar até ao fim dos dias. Mas, se puder, que não posso, escolher, prefiro que sejam heterossexuais.
Dêem-me só um minuto para ir ali buscar o meu estojo de palavras escolhidas meticulosamente que já continuo a exposição deste problema que não o é. Estranhamente o assunto é perigoso e eu não quero aparecer numa valeta amortalhado numa bandeira com muitas cores, tenho filhos para criar.
Ok, estou de volta. Porque raio tens tu de preferir alguma coisa na vida sexual dos teus filhos? Pergunta ela. Na sexual talvez não (embora, por defeito de personalidade, até nessa tenha) mas na vida acho que sim, respondo eu. E a vida tem menos problemas se não tiveres de lidar com a questão de assumir que és gay. E ela responde: “Se todos pensassem como eu, sem preconceito algum, essa dificuldade já não existiria”.
Eu digo que é verdade, que gosto de pensar que não sou preconceituoso mas o mundo está longe de ser perfeito. Para além dessa que é a única razão com força suficiente para aguentar um debate, num tom muito mais egocêntrico, custa-me a descontinuidade desta bela linhagem e um clima de pouco à vontade nos jantares de Natal lá em casa.
Depois de divagarmos por vários tentáculos do assunto ela arruma-o com um “és um cromo de um atrasado”. Infelizmente não o posso negar, como também não posso negar como penso, não o impondo a quem quer que seja. Sendo que aos filhos, sei que o farei, por inerência do cargo.
E é nesta responsabilidade, nestas manobras difíceis com o veículo longo, carregado de genética, meio envolvente, experiências e acaso te digo, minha amiga, não é por mim que o mundo não cumprirá o seu desígnio, daqui a alguns anos já não haverá “cromos” como eu. Por enquanto, disfrutemos da salutar diferença.