Os jogos ou brinquedos ao estilo retro, construídos em madeira, pintados à mão e revivalistas serão sempre um dos, ou mesmo “o”, presente mais original e causador de maior impacto, que pode cair no sapatinho ou aparecer debaixo das coloridas ramagens da árvore de Natal.
Seja um simples pião ou carrinho de madeira, a procura tem aumentado e, como ditam as leis do mercado, a oferta responde, praticamente na mesma proporção, apesar de se tratar de um óbvio nicho de mercado.
Nesta quadra, quando faltam ideias para dar algo especial a quem já tem tudo, vale a pena considerar a possibilidade de dar um passo atrás e fazer uma pequena viagem no tempo, até encontrar algo que emane sensibilidade e personalidade em cada átomo.
E há mais vantagens em procurar prendas feitas à mão e cuja valor não se calcula pela quantidade de semicondutores, processadores, memórias e microchips implantados numa motherboard por um robô num qualquer chão-de-fábrica asséptico e do outro lado do mundo.
Entre elas, desde logo, a responsabilidade social, aliada ao facto de, muito provavelmente, se estar a praticar um acto relevante ao nível da economia circular.
Filipa Sousa, responsável pelo Marketing da Americana, empresa especializada em papelaria, brinquedos, belas-artes e DIY, explica que existe uma certa nostalgia daquilo que viveram e também porque buscam artigos sustentáveis, fabricados, muitos deles, com um elevado grau de intervenção e arte manuais.
“Muitos, procuram por estes brinquedos nas nossas lojas porque os encontram através das redes sociais. As marcas também perceberam isso e, por exemplo, a Olivo, está a fazer uma reedição do clássico jogo do Sabichão. Penso que, para muitas pessoas, puxará por certos sentimentos e recordações felizes”, explica.
No entanto, quer se trate do Jogo da Glória, do Ganso, ou de qualquer outra modelo de analogia, há também pais que compram estes artigos por gosto pessoal e vêem na sua oferta aos seus próprios filhos ou aos de amigos, uma oportunidade de abrir uma janela para um tempo onde brincar era mais simples, porém, mais recompensador e assentava na partilha com outras crianças.
“Sim, há uma vertente pedagógica muito importante associada a este tipo de brinquedo. E atenção que eles não são apenas para os mais novos. Há adultos que ficam bastante entusiasmados com alguns artigos que vendemos, nomeadamente, os puzzles metálicos, para toda a família, jogos de cartas, mikados, torres de jenga ou até a petanca para jogar no tapete da sala, entre outros”, afirma Gil Jerónimo.
O responsável pela loja Ursinho Verde, de Leiria, especializada em produtos ecológicos e sustentáveis, para mulheres, mães e crianças, refere, tal como Filipa Sousa, a nostalgia de quem, na infância, teve alguns dos artigos que comercializa.
“Há também avós que os compram para oferecer e quem, por uma questão de tendência retro ou por lógica ambiental, o faça.”
Para estes últimos, há tintas não tóxicas, madeira reaproveitada e plástico reciclado. “Os preços deixaram de reflectir aquela ideia ‘premium’ que havia à volta destes brinquedos. Passaram a ser bastante competitivos”, assegura Filipa Sousa, da Americana.
“Há até artigos de papelaria que são encarados como possíveis prendas ambientalmente aceitáveis, como a lapiseira infinita, que equivale a 100 lápis, ou a fita-cola de plástico reciclado!”
Educativos, funcionais, originais e didácticos, é assim que Susana Neves, responsável pela Arquivo Livraria, em Leiria, distinguida com o Prémio Melhor Ambiente e segunda Melhor Livraria Portuguesa em votações promovidas pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros, descreve os brinquedos mais tradicionais que o espaço comercializa.
“São para um público bastante específico, de nicho, que valoriza este tipo de artigo. São pessoas entre os 30 e 40 anos, que procuram marcas que, por exemplo, usam tintas vegetais não tóxicas.”
A madeira costuma ser o material mais procurado, sob a forma de instrumentos musicais, pistas de carros ou puzzles, para crianças com idades compreendidas entre os seis meses e os seis anos.
Há ainda ofertas para adultos, que fazem parte do universo das matérias com baixo impacto ambiental, como a cerâmica de autor, criada por artistas independentes, normalmente procuradas para prendas para adultos.
“Temos peças de Manu Souza Ceramics ou Ramos Cerâmica que são únicas e feitas à mão”, ilustra Susana Neves.