O vapor que surgia entre as rochas despertou a curiosidade daquele grupo de homens que no longínquo ano de 1947 procuraria, entre as pedras que forram as encostas de Mira de Aire, um sítio de onde fosse possível retirar água.
Atraídos por essa vaporação, que saia de uma fenda natural, Ernesto Morais, Manuel Trouxa, Jaime Caetano e Manuel 'da Tia' (também conhecido como Manuel 'do Olho') – todos já falecidos – entraram na cavidade.
Desceram com a ajuda de uma corda até uma pequena galeria, avançando “duas dezenas de metros” e, apesar de a visibilidade ser fraca, anteviram que algo de grandioso poderia estar à sua frente, pois as suas vozes entoavam assim como o barulho das pedras que atiravam.
“Lidámos com muito dificuldade porque o buraco era muito estreito. Descia um de cada vez com a corda. Foram sete ou oito dias de trabalho [a desobstruir a passagem]. As pedras vinham numa cesta”, relatou Ernesto Morais, um dos quatro primeiros homens a entrar na gruta, já falecido, no documentário O homem e as pedras, realizado pela RTP em 1976.
A notícia da descoberta acabaria por chegar a Lisboa, trazendo a Mira de Aire especialistas nesta área. “Vieram uns rapazes de Lisboa, o Francisco Abreu, que era da Câmara, e o Bruno da Silveira, médico dentista do exército . (…) Vieram também rapazes da academia de ciências. Trouxeram escadas de cordas. (…) Na primeira exploração a sério estivemos lá 14 horas. Saímos de madrugada. Chegámos ao areal a 1800 metros da entrada e a uns 150 metros de profundidade”, relatou Ernesto Morais naquele documentário.
Os trabalhos de prospecção continuaram nos anos seguintes, pela mão de elementos da Sociedade Portuguesa de Espeleologia, criada um ano depois da descoberta da gruta. Em 1958, por iniciativa da Junta de Freguesia dá-se a primeira tentativa de abrir a gruta à visitação.
“Fizeram-se umas escadas em madeira, com lâmpadas de iluminação tipo arraial. Ainda vieram algumas excursões, mas, por causa da humidade, as escadas tiveram vida curta e, em menos de três anos, acabaram-se as visitas, por questões de segurança”, conta Carlos Alberto Vieira, actual administrador das Grutas de Mira de Aire. Desse tempo, ficou também a destruição de alguns estalactites que estavam “à mão de semear dos caçadores de recordações”.
Identificada como possível abrigo militar À medida que a exploração avançava, com campanhas mais prolongadas que exigiam a criação de acampamentos no interior da gruta, crescia também o desejo de mostrar esta maravilha da natureza ao público.
Entretanto, e na sequência de uma visita a Mira de Aire dos ministros do Interior e da Defesa, o local é classificado como de interesse público, tendo também sido determinado o levantamento topográfico da gruta. Carlos Alberto Jorge conta ainda que nessa época – anos 60 do século XX – a grupo foi identificada, em termos de defesa nacional, como possível abrigo militar.
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