Tal como aconteceu com tantos outros portugueses, foi a crise económica que empurrou Irene Pereira, professora de Porto de Mós e antiga vereadora, para a emigração. Saiu em 2013, primeiro para Inglaterra e depois para os Emirados Árabes Unidos, trabalhando actualmente como professora de Francês numa escola internacional do Dubai.
Da experiência neste país, destaca o “ambiente internacional e multicultural” e o mercado de trabalho “estimulante e competitivo”, onde a evolução na carreira “só está dependente do esforço e do talento”.
Em 2013, com 45 anos, Irene Pereira, formada em Línguas e Literaturas Modernas, viu-se perante um dilema: “ficar [em Portugal] e ir definhando economicamente” ou “dar o salto”. Com dois filhos a estudar, uma dos quais na universidade, acumulou, durante algum tempo, o emprego de professora com o de formadora, avaliadora externa das Novas Oportunidades e explicadora.
Só que, com o agravar da crise estas actividades, que lhe permitiam angariar um rendimento extra, desapareceram e “ficou muito difícil fazer face às despesas”. Irene Pereira decidiu, então, “dar o salto”.
Fez pesquisas de mercado e percebeu que, para leccionar no estrangeiro, “muitos países pediam experiência de ensino em Inglaterra”. Partiu para Londres, “sem conhecer ninguém” e com um quarto arrendado na internet. “Foi das decisões mais difíceis da minha vida”, confessa. Ao fim de um mês em Londres, já trabalhava como docente substituta, “como começam todos os professores portugueses” em Inglaterra.
“Basicamente, consiste em estar preparado às seis e meia da manhã e ir para onde as agências nos enviam, ou seja, escolas em toda a cidade”, conta.
Cedo percebeu que Londres não era o seu sítio. “Emigrar aos 45 anos é muito difícil, ser professora substituta é muito duro e o clima também não ajudou nada”, explica. Começou a concorrer para outros países, conseguindo colocação em Ruwais, uma cidade petrolífera nos Emirados Árabes Unidos, perto da fronteira com a Arábia Saudita. Mais uma vez, chegar a local novo sem conhecer ninguém.
[LER_MAIS] “Sobreviver e adaptar-se é a palavra de ordem. Fiz excelentes amigos, dediquei me aos desportos de natureza e estabilizei a minha situação económica”, conta Irene Pereira, que esteve um ano naquela cidade a dar aulas de Francês.
O melhor dos dois mundos num país muçulmano
Seguiu-se depois o Dubai, onde um dos filhos, formado na escola de hotelaria de Fátima, conseguiu trabalho no Burj Khalifa, o restaurante mais alto do mundo. “Ensino Francês há três anos numa escola internacional inglesa no Dubai. Tenho alunos do mundo inteiro, até portugueses. É uma experiência muito enriquecedora”.
Sobre a vivência no Dubai, Irene Pereira destaca o ambiente “estimulante e competitivo” e “o convívio com pessoas de todas as raças, religiões e idades”. “Aqui trabalho muito mais horas por semana e a evolução na carreira só depende do meu esforço e talento, o que adoro”, diz, afirmando ainda que “viver num país muçulmano tão tolerante como o Dubai é ter o melhor de dois mundos”.
“É poder viver como viveria na Europa, mas tendo a possibilidade de conviver e participar nas vidas de tanta gente de todo o mundo.” Além disso, está “perto de sítios que nunca poderia visitar se vivesse na Europa, sítios aos quais estamos ligados histórica e afectivamente, como Omã ou Sri Lanka”.
“No fundo tenho a agradecer à crise económica ter-me dado um empurrão. Abriu-me novos horizontes e permitiu-me também abri-los aos meus filhos em termos profissionais e pessoais”, frisa a professora, que “num futuro próximo” tenciona regressar a Portugal. “É o meu País e Porto de Mós a minha base.”