Um grupo de pais, que pediu para não ser identificado, foi desafiado a participar no programa Mais Família-Mais Jovem, que os ajudou a adquirir competências para uma parentalidade positiva e promoção de uma comunicação mais saudável em casa.
Após 12 sessões semanais, os pais de jovens que têm acompanhamento no serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Centro Hospitalar de Leiria acreditam que hoje têm mais ferramentas para manterem uma relação mais conciliadora com os filhos, muitos na idade “desafiante” da adolescência.
“Quando foi sugerido frequentar este programa confesso que não me fazia muito sentido. Ao longo das sessões percebi que havia comportamentos que fazia errado e as ferramentas que foram dadas têm sido úteis e auxiliam no dia-a-dia para lidar com os meus dois filhos”, adianta uma mãe.
Com dois rapazes de 12 e 16 anos, considera que a impulsividade da reacção acabava por ser motivo de conflito. “Agora penso duas vezes como reagir.”
A mesma opinião tem outro pai, que admite que as situações de conflito têm sido amenizadas. “A mudança do nosso comportamento, enquanto adultos, ajuda a evitar os problemas”, afirma, considerando uma mais-valia as sessões grupais, onde todos partilham problemas comuns.
“Muitas pessoas não entendem os nossos problemas e aqui percebemos que não estamos sós”, acrescenta aquele pai de um rapaz de 15 anos. Estes jovens apresentam diagnósticos como Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção (PHDA), comportamento desafio/ oposição, ligeiros défices cognitivos ou perturbação do espetro do autismo.
No entanto, Ana Gouveia, enfermeira, salienta que o programa “não é direccionado para nenhum problema específico” e pode ser aplicado “em qualquer pai que não tenha filhos com qualquer problema de saúde mental”.
“A adolescência é uma etapa da vida mais desafiante para os pais e, muitas vezes, como pais, também não entendemos que se trata da maturidade emocional do jovem. Há toda uma condição biológica que os miúdos ainda não têm adquirido. Ao olharmos para eles ou os vemos como muito adultos, que já deveriam saber fazer determinadas coisas, ou como muito infantis, e acabamos por considerá-los mal-educados, desobedientes, toda uma série de preconceitos e estigmas que, muitas vezes, apenas é a normalidade da adolescência”, reforça Sónia Leirião, psicóloga do CHL.
Este projecto partiu da pedopsiquiatra Graça Milheiro, que desafiou Sónia e Ana Gouveia a terem formação do programa Mais Família- Mais Jovem para avançarem com educação parental em alguns casos, triados pela pedopsiquiatra.
“Muitas vezes o nosso trabalho de gabinete é insuficiente e grande parte das consultas serviam para fazer capacitação parental”, constata a psicóloga. As especialistas entendem que a actividade em grupo é uma “mais-valia”, pois os pais sentem que “as dificuldades de um são sentidas pelos outros e esta cumplicidade e empatia é muito terapêutica”.
“Todos se identificam com as mesmas dificuldades e com os mesmos desafios.” Ana Gouveia admite que não há milagres nem receitas 100% eficazes, mas só o facto de parar para avaliar o comportamento e haver predisposição para fazer diferente já é positivo.