“São comentários depreciativos e de quem se habitou a criticar tudo aquilo que é pequeno, só pelo facto de ser pequeno”, desvaloriza Paulo Santos, gerente da Quadripeças, que rejeita apelidos como “papa-reformas” ou “mata-velhos”, ainda atribuídos aos quadrimóveis. Isto porque estes micro-carros são seguros e tanto podem ser adquiridos à custa de uma reforma, de uma mesada como de outro rendimento qualquer, realça o responsável.
Com oficina e stand em Amor (Leiria) e um stand na Embra (Marinha Grande), a Quadripeças é concessionária do Ligier Group, comercializa veículos quadrimóveis na região, que são cada vez mais uma opção para gerações mais novas.
Para este grupo, o negócio teve o seu boom no final dos anos 90, quando este tipo de transporte chegou ao mercado português e, desde então, tem continuado a crescer. “Em 2012, o Legier Group vendia 40 carros novos num ano, em todo o País. Actualmente, vende 500”, compara Paulo Santos. “No total, vendi cerca de 100 veículos na região no último ano”, especifica o gerente da Quadripeças.
Há uma quantidade mais reduzida de compradores com idades acima dos 65 anos. A maior fatia do seu público são hoje pessoas em idade activa, entre os 25 e os 65 anos, explica Paulo Santos.
A esmagadora maioria dos quadrimóveis que circulam em Portugal são de dois lugares e podem ser conduzidos por quem tem mais de 16 anos e carta de ciclomotor de 50 centímetros cúbicos. São por isso requisitados por pais que querem conferir “autonomia” aos filhos, que assim, com “conforto e segurança”, podem até ir buscar o irmão à escola, exemplifica [LER_MAIS]o gerente.
São também uma opção para quem reprovou no código ou não tem vontade de tirar carta de automóvel ligeiro, acrescenta Paulo Santos.
Mas “há também quem tenha um automóvel de alta cilindrada e uma pickup e prefira usar o quadrimóvel durante a semana, por ser mais fácil de estacionar e por ter um consumo mais em conta”, salienta o gerente.
Embora não seja reconhecido pela rapidez, já que deve cumprir 50 quilómetros/ hora, é um automóvel “resistente”, que faz viagens nacionais e, por que não, internacionais também, considera Paulo Santos. Não podem, contudo, circular nas auto-estradas.
Na Suécia, conta o gerente, o quadrimóvel já é o terceiro carro da família, que tanto serve o marido e a esposa, como a ambos, ou aos filhos, realça. Dependendo dos extras, os quadrimóveis custam entre 10 e 20 mil euros, expõe o gerente.
Manuel Ribeiro, da Casa Ribeiro, em Vieira de Leiria, começou a vender quadrimóveis no final dos anos 90. Também recorda que os primeiros anos foram muito bons em número de vendas. Quando estes veículos surgiram chegou a comercializar 19 num ano. Já no último ano, vendeu “dois ou três”.
Mas também repara que o público mudou e alguns dos adeptos deste transporte são hoje pessoas na casa dos 30 anos, com pouca escolaridade ou com dificuldade em conseguir obter carta de condução de automóveis ligeiros. Esporadicamente, chega a vender a pessoas até mais jovens, pela preferência dos pais, que consideram ser um veículo mais seguro do que a motorizada.
Na Jomotos, sediada em Pombal, a venda destes transportes tem flutuado, sendo que as vendas de 2021 estão aquém das de 2020. Quanto ao público, a empresa também faz saber que se situa actualmente acima dos 40 anos.
Recuperar a autonomia e o conforto
“O meu pai tinha o seu automóvel, mas, devido a problemas de saúde, foi-lhe retirada a carta de condução de ligeiros. Passou a andar de motorizada, à chuva, e não tinha como ajudar a minha mãe no transporte das compras”, recorda Gonçalo Lopes.
“Foi por insistência minha que em 2008 comprou o seu primeiro carro destes. Depois disso, já comprou um segundo. E foi a melhor decisão que podia ter. Recuperou a autonomia e vai a todo o lado com a minha mãe, desde o supermercado até aos passeios mais longos. Só não pode circular pela auto-estrada”, expõe Gonçalo.
“É automático, tem airbags, rádio e leitor de CD, é seguro e confortável”, defende Gonçalo Lopes, que também vê com bons olhos a utilização que está a ser dada a estes transportes pelas gerações mais novas.
“Nas cidades, já se vêem vários quadrimóveis nos parques de estacionamento das escolas. Ainda não têm idade para ter carta de condução de automóvel, mas assim os miúdos já podem ir à escola sozinhos sem necessitar dos pais, faça chuva ou faça sol. Se tivesse capacidade financeira para isso, era um investimento que não me importava de fazer pelos meus filhos”, realça ainda.