Leiria é, hoje, uma cidade do litoral português onde, nos últimos anos, a pouco e pouco, a cultura e praticamente todas as manifestações artísticas, encontrem um público afoito e desejoso de conhecer mais, alimentando a mente com novas ideias e novas formas de expressão.
Os eventos marcados por várias disciplinas criativas sucedem-se em catadupa, sendo raro o fim-de-semana em que Leiria não “mexe”. Porém ao contrário do que se poderia pensar, no último século foram vários os momentos em que o voluntarismo e a boa vontade levaram à cidade do Lis artistas, criativos e variadas formas de arte, da música ao teatro, sem esquecer o cinema e a dança.
A pouco mais de uma semana da realização da 5.ª edição do Há Música na Cidade,evento organizado pelo JORNAL DE LEIRIA que reune no centro histórico de Leiria quase mais de milhar de músicos, bailarinos e outras formas de expressão, recordamos aqui o tempo em que o velho teatro D. Maria Pia serviu de palco a artistas de reputação mundial como os pianistas Nikita Magaloff, Arthur Rubinstein, a violoncelista Guilhermina Suggia, Sérgio Varella-Cid, Gaspar Cassadó e Pablo Casals.
Corriam os idos de 30 e 40 do século passado e Leiria era o porto seguro de um grupo de criativos que impulsionaram a vida cultural da cidade “beata” e conservadora que Eça, umas décadas antes, tinha caricaturado no seu O Crime do Padre Amaro.
A vida cultural da pequena cidade desenvolvia-se à volta de três ou quatro eventos organizados pelo casal Tinoco. Ele, Agostinho de nome, era o reitor do antigo Liceu
de Leiria, edificado junto à ponte Hintze Ribeiro, ela, Maria Carlota, era uma exímia pianista que haveria de ser docente no Orfeão de Leiria. Nos anos 30, ainda antes de se adivinharem no horizonte as nuvens negras da II Guerra Mundial, o Teatro D. Maria Pia acolhia asHoras de Arte, evento dedicado aos artistas locais e não só, organizado por Agostinho, com o apoio da Associação de Estudantes do Liceu de Leiria e onde Maria Carlota também tinha uma palavra a dizer.
“Eram galas no Teatro Maria Pia, com as capas dos estudantes nos frisos e tinham a duração exacta de uma hora. Na primeira parte, havia conferências e declarações, na segunda, havia recitais de música de solistas, de câmara… e era transmitido em directo na rádio, até para o estrangeiro, com locução de Fernando Pessa”, recorda o arquitecto, pintor, músico, compositor e poeta, José Luís Tinoco, filho do casal. Nascido em Leiria a 27 de Dezembro de 1932, recorda uma infância e adolescência vividas entre a praça Rodrigues Lobo, centro nevrálgico da capital do distrito, e o Teatro D. Maria Pia.
Mais tarde, os pais organizariam o Círculo Musical de Leiria, para onde convidavam um maior número de artistas de renome internacional e nacional. “Era um fascínio entrar na sala-de-estar lá de casa e ver craques mundiais, que iam lá para um chá e torradas. Toquei para o Sérgio Varella-Cid e uma vez foi lá o Gaspar Cassadó, que era comparável ao Pablo Casals.”
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