A utilização do automóvel nas deslocações diárias para o trabalho ou para a escola na região (distrito de Leiria e concelho de Ourém) aumentou na última década, segundo os dados definitivos dos Censos 2021. Actualmente, 77% dos trabalhadores e dos estudantes da região deslocam-se de carro nos seus movimentos pendulares, enquanto há dez anos eram 72%.
O aumento do recurso ao automóvel aconteceu, sobretudo, à custa da redução da utilização do autocarro, que passou de 18% para 6% em dez anos. Também nas deslocações a pé houve uma descida, embora ligeira (de 14 para 13%).
No que diz respeito ao uso da bicicleta/ motociclo, os dados dos Censos indicam que, na região, há mais pessoas a utilizar as duas rodas para ir para emprego ou para escola, embora os números sejam ainda pouco expressivos (2%). Residual é também a percentagem dos trabalhadores e dos estudantes que recorre ao comboio nas suas deslocações diárias, com o valor a rondar 0,5%.
A nível nacional, os dados reflectem também um aumento do uso automóvel, meio de transporte utilizado por 66% dos portugueses entre casa-trabalho/escola, quando há uma década a percentagem rondava os 61%. Tal como na região, no País houve uma redução no recurso aos transportes colectivos (de 12 para 9%) e um ligeiro acréscimo no uso da bicicleta, que passou de 1,7 para 2%.
De acordo com os resultados dos Censos 2021, a percentagem de portugueses que se desloca a pé ou de comboio para o emprego manteve-se inalterada nos últimos dez anos (16 e 3%, respectivamente).
À primeira vista, os dados do País e da região podem reflectir uma evolução contrária ao esperado, tendo em conta o investimento feito nos últimos anos, por exemplo, em ciclovias e até nos transportes colectivos, com o Programa de Apoio à Redução Tarifária (PART), criado em 2019.
Mas, para quem anda no terreno, como Paula Teles, especialista em mobilidade, os números não surpreendem e evidenciam “uma ausência de planeamento”. “As medidas implementadas acabam por ser avulsas, sem articulação entre si. Ora, a mobilidade implica, precisamente, o contrário. É um processo de articulação entre todos os meios transporte”, alega a técnica, que esteve envolvida na elaboração do plano de mobilidade de Leiria, que o município acabou por colocar na gaveta.
No caso particular da capital de distrito, Paula Teles frisa que “grande parte das deslocações na cidade são inferiores a três quilómetros” e que, por isso, a bicicleta ou a circulação pedonal podiam ser soluções a adoptar.
Contudo, essa mudança de hábitos, “não só em Leiria, mas em termos gerais”, implica trabalho “a montante”, com a criação de parques de estacionamento dissuasores na periferia, melhoria dos passeios, maior cadência dos transportes públicos, mais conforto nas paragens de autocarro e ciclovias pensadas nos movimentos pendulares e não apenas no lazer. “Estivemos anos a enganar a Europa, a fazer ciclovias em zonas de lazer quando o objectivo era melhorar as cadeias de circulação casa-trabalho/ escola”, critica Paula Teles.
Menos de 1% usa o comboio
Se a fraca utilização dos transportes colectivos e dos modos suaves de mobilidade não surpreendem quem trabalha nesta área, também o uso reduzido do comboio na região (0,5%) não causa surpresa a Rui Raposo, porta-voz da Comissão de Utentes da Linha do Oeste.
“Com o estado da linha actual, não seria de esperar outra coisa”, lamenta o dirigente, confiante, no entanto, que, com os investimentos em curso e planeados, os números dos próximos Censos, em 2031, possam ser diferentes e reflictam um crescimento do uso do comboio.
“As obras em curso, ainda que aos solavancos, e a modernização e electrificação do troço entre Caldas da Rainha e Louriçal, a futura ligação à Linha de Alta Velocidade e a alteração do traçado entre Loures e Lisboa, poderão ser elementos transformadores e fazer com que nos Censos de 2031 o número de utilizadores do comboio na região seja significativamente superior”, deseja Rui Raposo, que olha para a ferrovia como um transporte “do presente e do futuro, do ponto de vista ambiental, económico e social”.
Viagens diárias entre casa e trabalho demoram em média 16,6 minutos
Os trabalhadores e estudantes da região demoram, em média, menos de 17 minutos (16,6) a chegar ao emprego ou à escola. De acordo com os Censos 2021, cerca de 65% das pessoas residentes no distrito e no concelho de Ourém gastam até 15 minutos nas suas deslocações diárias, enquanto 26% demoram entre 16 a 30 minutos.
Os dados revelam ainda que é nos concelhos de Alvaiázere, Bombarral e Ansião que mais tempo se perde entre casa-trabalho/escola. Pelo contrário, na Marinha Grande, Batalha e Leiria demora-se menos (ver infografia em rodapé).
No caso dos trabalhadores, os dados podem ser, em parte, explicados pelo local de emprego. De acordo com os Censos 2021, na capital de distrito a maioria das pessoas (76%) trabalha na área do município ou em concelhos vizinhos (14%), sendo que apenas 8% tem de sair da região diariamente. Outro exemplo: na Marinha Grande, 69% das pessoas trabalham no concelho onde residem ou em municípios confinantes.
Por seu lado, Alvaiázere, que tem a mais elevada duração média das deslocações diárias (18,3 minutos), é o município da região com maior percentagem de pessoas a trabalhar fora da região (21%). Em Óbidos, onde mais de metade da população tem emprego em concelhos vizinhos ou em regiões fora da sua área de residência, as deslocações médias diárias rondam os 17,6 minutos.
Onde saem e entram mais pessoas?
Os Censos apresentam também dados sobre a população que entra e sai dos concelhos para trabalhar ou estudar. Sem surpresa, Leiria é o município com maior saldo positivo, ou seja, diariamente entram no concelho mais pessoas (18.109) do que aquelas que saem (13.737). Entre aqueles que entram no município, 13.688 fazem-no para trabalhar e 4.421 para estudar. A população empregada domina também as saídas diárias da capital de distrito (11.113 contra as 2.624 que saem para estudar).
Marinha Grande, Ourém e Caldas da Rainha são os outros três concelhos da região onde a entrada diária de pessoas supera as saídas. No caso da Marinha Grande, há 5.842 trabalhadores e 901 estudantes de fora a entrar no concelho e 4.492 e 1.047 a sair para trabalhar ou estudar noutros municípios.