É uma iniciativa que já existe desde 2015, mas só nos últimos anos começou a ser mais visível na região.
Com o objectivo de enaltecer acções eticamente correctas, que demonstram fair-play durante uma partida, o cartão branco foi implementado pelo IPDJ (Instituto Português do Desporto e Juventude) e já é um objecto conhecido do público da região de Leiria, especialmente no futebol, futsal e basquetebol.
Várias são as situações que podem levar o árbitro a atribuir o cartão branco. Muitas vezes, surgem quando um atleta está no chão e, ao aperceber-se da situação, o adversário põe a bola fora para que a assistência entre em campo, ou quando uma equipa médica assiste um oponente, e até mesmo em situações onde a claque demonstre uma sã convivência com os adeptos de outras equipas.
Depende, principalmente, do entendimento do árbitro, quando considera, ou não, que determinada acção merece ser distinguida.
O programa do IPDJ já tem quase dez anos, mas, na Associação de Futebol de Leiria, só começou a ser implementado na época 2018/2019, que regista 11 cartões brancos exibidos.
Na temporada seguinte, o número subiu para 14 e a pandemia fez com que, em 2020/2021, existissem só dois cartões brancos.
Com as restrições levantadas, o futebol e futsal regressaram aos campos e as boas acções também. A quantidade de cartões brancos tem aumentado no distrito e, em 2021/2022, 27 situações de jogo mereceram o cartão branco.
A época seguinte, de 2022/2023, foi aquela que teve mais cartões brancos mostrados, com 86. No entanto, a temporada passada registou um decréscimo para 50.
Ainda assim, são números que atestam os valores levados para dentro de campo pelos jogadores, que colocam o bem-estar dos adversários à frente da vitória na partida.
A Associação de Futebol de Leiria (AFL) destaca mesmo intervenções de fair-play durante o jogo, como fisioterapeutas ou massagistas com “atitudes louváveis para com jogadores de equipas adversárias” e “bom comportamento do público”.
O CCDS Casal Velho, sediado em Alfeizerão (Alcobaça), é um dos clubes da AFL com mais cartões brancos recebidos.
O responsável pela secção do futsal detalha uma das situações, num jogo de infantis, quando “o adversário estava a jogar de óculos e deixou-os cair”. “A bola sobrou para nós e o jogador pôs a bola fora para que o adversário pudesse apanhar os óculos”, adianta.
Édipo Santos também tem uma história destas para contar. A jogar nos seniores, numa partida a contar para a Taça de Portugal, em que o Casal Velho já vencia o CR Chãs por 3-2, há um lance longo onde o guarda-redes adversário fica no chão sem que ocorresse qualquer falta.
De baliza aberta, com a oportunidade de aumentar o marcador, Édipo Santos escolhe colocar a bola fora e assistir o lesionado. “Estas situações demonstram bem os valores incutidos aos nossos atletas, desde os mais novos até aos seniores”, acredita o responsável.
No basquetebol, o cartão branco ainda é uma novidade. A época passada foi a primeira em que a Associação de Basquetebol de Leiria aderiu à iniciativa e não podia ter corrido melhor. No total, 60 cartões brancos atestaram o fair-play dos vários agentes desportivos.
Celso Casinha, coordenador-geral do Núcleo do Desporto Amador de Pombal (NDAP), um dos clubes que reúne mais cartões brancos, também fala de alguns dos episódios.
Ajudas à arbitragem, com correcções nas decisões, ou o socorro a atletas que se lesionam são algumas das situações relatadas. Também já aconteceu, devido a lesões e expulsões de campo, uma equipa adversária ficar reduzida a quatro elementos, num jogo de formação. Perante um jogo desigual, o NDAP resolveu também retirar um atleta de campo.
Ao longo da época, o clube também promove acções de sensibilização junto de atletas e pais, apelando à responsabilidade dentro e fora de campo.
“Vemos com orgulho que, em jogo, não é preciso dizer aos nossos atletas para, às vezes, ajudarem o árbitro numa decisão, por exemplo. [O cartão branco] é sempre um estímulo positivo”, defende o dirigente.