O caso que está a abalar o meio artístico português envolve também dois músicos do distrito que após queixas contra eles por assédio a alunas maiores de idade deixaram de dar aulas na escola do Hot Clube de Portugal, em Lisboa. Um dos visados é presidente da Associação Jazz de Leiria, director artístico da Orquestra Jazz de Leiria e director pedagógico da Escola de Jazz de Leiria, entidades que ao longo dos anos têm celebrado contratos e protocolos com o município e com o Teatro José Lúcio da Silva.
Já esta terça-feira, em desacordo com o silêncio da Associação Jazz de Leiria face a denúncias divulgadas publicamente pelo Hot Clube de Portugal, um dos vogais da direcção anunciou que vai cessar funções e abandonar a Orquestra Jazz de Leiria e a actividade de professor na Escola Jazz de Leiria.
Na semana passada, sem referir nomes, o Hot Clube de Portugal revelou que no ano lectivo de 2021/22 foram identificadas duas situações de assédio que levaram ao afastamento de dois professores e à criação de um código de conduta, de um gabinete de apoio ao aluno e de um canal de denúncia.
Ao JORNAL DE LEIRIA, o actual presidente do Hot Clube de Portugal, Pedro Moreira, explica que “as situações não foram reportadas às autoridades porque as denunciantes [duas alunas] assim não o entenderam” e acrescenta que “perante as suspeitas e indícios apresentados” a direcção pedagógica considerou que “não haveria condições para a continuidade de funções docentes”.
Na origem do comunicado do Hot Clube de Portugal, e do movimento de denúncia que continua a avolumar-se, uma espécie de #MeToo português a extravasar do jazz para outras áreas da música e das artes, está a acusação de violação e stealthing (a não utilização de preservativo sem consentimento) da DJ Liliana Cunha (nome artístico Tágide) contra o pianista e professor João Pedro Coelho, que nega as alegações. Liliana Cunha não está ligada ao jazz nem foi aluna de João Pedro Coelho, mas o pianista deu aulas no Hot Clube de Portugal até ao ano lectivo de 2022/2023.
As publicações de Liliana Cunha nas redes sociais originaram, entretanto, uma onda de solidariedade e a abertura de canais informais para a partilha de depoimentos, nomeadamente, através do endereço de email testemunhasdamusica@proton.me.
Contactados pelo JORNAL DE LEIRIA, ambos os músicos afastados pelo Hot Clube de Portugal em 2022 optaram por não prestar declarações.