Quando aos 16 anos fez um workshop de efeitos especiais na loja Papagaio sem Penas, na ‘rua Direita’, em Leiria, Raquel Bárbara estava muito longe de imaginar que, anos mais tarde, seria esse o caminho a que os acasos da vida a iriam conduzir.
Formada em Design e Desenvolvimento de Produto, tem dado cartas no mundo dos efeitos especiais e da caracterização para cinema e televisão em Londres, Inglaterra.
No momento em que falou com o JORNAL DE LEIRIA estava de partida para a República Checa, onde ficará até meados de Julho, a trabalhar para uma série da Amazon. O objectivo é depois regressar a Inglaterra, onde se radicou há quase três anos.
“Ao contrário do que se possa pensar, a indústria dos filmes não está no EUA. Muitas produções americanas vêem para Inglaterra, por questões fiscais.”, explica.
Natural de Portelas, Cortes, Raquel Bárbara formou-se em Design e Desenvolvimento do Produto na Escola Superior de Tecnologia de Abrantes. Seguiu-se um estágio profissional na indústria de moldes que a fez perceber que aquele não era o seu mundo. Mudou-se, então, para Lisboa, com o objectivo de fazer uma formação em animação (2D e 3D).
De dia, estudava na EITIC – Escola de Tecnologias, Inovação e Criação (antes designada por Escola Técnica de Imagem e Comunicação) e à noite trabalhava num pub irlandês no Cais do Sodré. Foram, conta, dois anos em que “os dias pareciam ter 48 horas”.
No final do curso, integrou a lista dos melhores alunos convidados para para participar num speed dating com cerca de 30 empresas. “Tínhamos cinco minutos para os convencer de que merecíamos uma oportunidade de trabalho”, explica Raquel Bárbara, que saiu do encontro com uma proposta da Illusive Studios, não para a área da animação, mas para a da produção.
“Nunca na vida tinha pensado em ser produtora, mas pensei: ‘Por que não?’. Aceitei o desafio e acabei por ficar cinco anos na Illusive”, recorda a jovem, que fez depois um workshop de caracterização, onde conheceu Rita Anjos – que integrou, por exemplo, a equipa de A Guerra dos Tronos -, e o seu companheiro Dave Bonneywell, que se revelaram importantes no novo rumo que a sua carreira viria a tomar.
Saiu do curso “fascinada” pelo mundo da caracterização e dos efeitos especiais. O poder misturar a imaginação, a técnica e a criação e dar vida às personagens. Tinha, então, 29 anos, e incentivada pelo casal, decidiu “dar uma volta de 180 graus” na sua vida e foi para Inglaterra estudar. Primeiro um curso de uma semana, “um investimento mais baixo” para perceber se era, de facto, o que queria. “Fiquei maluca. Juntei as minhas poupanças e fiz um curso intensivo. Senti-me como peixe na água”, recorda.
Terminada a formação, regressou a Portugal para preparar a mudança para Inglaterra. Passou duas semanas a mandar currículos e portfólios. Quando se preparava para partir para Londres, “completamente à aventura, sem casa nem trabalho”, recebeu resposta a um dos muitos emails que tinha enviado a perguntarem-lhe se queria começar daí a dois dias. Sem pensar duas vezes, aceitou a proposta, mesmo sendo como freelancer.
“Nesta área, são raras as pessoas que têm contrato”, justifica Raquel Bárbara.
“Arriscamos a nossa vida”
O regresso a Portugal, agora que encontrou no mundo dos efeitos especiais e da caracterização o seu porto seguro, é, para já, uma carta fora do baralho, por entender que o mercado nacional nesta área “é muito pequeno e ingrato”.
“Arriscamos a nossa vida. Trabalhamos com materiais muito caros e extremamente perigosos. Quando digo para não experimentarem fazer em casa, é mesmo a sério. Há líquidos que não têm qualquer cheiro, mas que são altamente tóxicos. E é um processo complexo. A cópia de uma cara, para desenrascar, pode demorar uma semana a fazer.”