Terá sido, em termos de mobilização, um dos maiores jantares de campanha para as eleições Europeias alguma vez realizado no distrito. No entanto, o evento socialista que, na última sexta-feira, juntou cerca de mil pessoas em Leiria e que contou com a presença do secretário-geral do partido, António Costa, terminou com polémica.
Na origem desse mal-estar estiveram alguns episódios que foram encarados como desrepeitosos pela Concelhia de Leiria, como o facto de o presidente da estrutura, Gonçalo Lopes, não ter tido oportunidade de discursar ou a exclusão da deputada Odete João e do presidente da Assembleia Municipal, António Sequeira, da mesa onde estava António Costa.
Numa missiva enviada aos membros do secretariado da concelhia de Leiria, Gonçalo Lopes dá conta dessa crispação e não poupa críticas à Federação, deixando um aviso: “Foi o último dia que trataram a concelhia de Leiria assim”.
Nesse documento, o líder da concelhia revela ainda o teor da “manifestação de apoio” dada por Raul Castro que, “incomodado com a situação”, lhe terá enviado uma mensagem a dizer: “Que vergonha… Estão a lixar-te”.
O mal-estar gerado é confirmado por vários militantes ouvidos pelo JORNAL DE LEIRIA, que dizem “não compreender”, por exemplo, a ausência do líder da concelhia anfitriã do alinhamento das intervenções.
[LER_MAIS] No documento a que o JORNAL DE LEIRIA teve acesso, Gonçalo Lopes acusa a Federação de se ter apropriado, “de uma maneira indecorosa”, do “esforço” do PS concelhio e dos autarcas locais, que foram “decisivos para o sucesso do jantar”.
“Mais de 50% das pessoas que foram ao jantar das Europeias eram de Leiria”, enfatiza o socialista, que contesta o facto de os presidentes de junta terem ficado em “mesas de fundo da sala, a exemplo de muitos militantes da concelhia”.
“Parece que servimos apenas para encher salas”, critica, revelando que a situação “criou um enorme mal- -estar” junto de alguns autarcas. “O PS não pode tratar assim aqueles que nos dão votos”, afirma o presidente da Concelhia, que também não gostou da “repreensão” que a Federação terá feito a alguns socialistas de Monte Redondo e Bajouca que vestiram uma camisola a dizer “Não” ao gás na Bajouca. “Não admito que tratem apoiantes nossos como se de cachopos se tratassem.”
No texto, o presidente da concelhia lamenta também não ter tido a oportunidade de “dar as boas-vindas e de agradecer aos que verdadeiramente tornaram o jantar possível”. Além de António Costa, usaram da palavra António Sales, líder da Federação, Raul Castro, presidente da Câmara de Leria, Margarida Marques, número quatro da lista ao Parlamento Europeu, assim como o cabeça-de-lista Pedro Marques.
Segundo aquela missiva, “a Federação informou” que o discurso de Raul Casto “substituiu a intervenção de Leiria” e que já não havia tempo para mais oradores. “É pena que uma Federação não tenha a força suficiente para impor essa intervenção no alinhamento. Aliás, em Coimbra o presidente da concelhia, vice-presidente da Câmara e futuro candidato falou”, escreveu Gonçalo Lopes no email enviado aos elementos do secretariado.
“Sabem que não sou de me pôr em bicos de pés e nem sou homem de penachos, mas ontem [sexta-feira] foi o último dia que trataram a concelhia de Leiria assim”, avisa o socialista, que promete “partir a louça toda” se nas legislativas não o respeitarem a ele ou ao PS de Leiria”. Deixa, no entanto, a garantia de que fará a campanha para as Europeias “com a determinação e o empenho” com que foi feito o jantar de sexta-feira.
Contactado pelo JORNAL DE LEIRIA, Gonçalo Lopes escusou-se a comentar o assunto, que classifica como “uma questão interna” e que considera “encerrada”. Também Raul Castro não quis prestar declarações, o mesmo acontecendo com o presidente da Federação, António Sales. Este último justificou a sua posição com o facto de “não ter conhecimento oficial do documento”.
Durante a sua intervenção, António Costa não poupou elogios a Leiria, que considerou “um distrito extraordinário, que tem tudo e é o melhor” em áreas como a agricultura, o património, a pesca ou a indústria”.