Em Novembro, a Quercus alertava para o perigo de acidentes ou de abatimento do piso da Autoestrada 8 (A8) caso venha a ser licenciada uma mina, já parcialmente explorada, entre os concelhos de Alcobaça e Nazaré.
Agora, confirmam-se os piores receios da Associação Nacional de Conservação da Natureza. A empresa de Coimbra Theia identificou um abatimento do pavimento da A8 de dois centímetros por ano, junto à Mina de Ribeiro Seco, em Alcobaça.
Ricardo Cabral, um dos fundadores da Theia, disse à Lusa que a análise, feita em Novembro de 2019, com recurso a imagens de satélite, permitiu identificar “algumas zonas da A8, junto à exploração mineira [de Ribeiro Seco], onde se observa uma velocidade de abatimento do pavimento da auto-estrada e zona envolvente na ordem dos dois centímetros por ano”.
A startup de Coimbra, que venceu o prémio europeu Copernicus Masters, instituído pela Comissão Europeia e pela Agência Espacial Europeia (ESA), fez a análise à A8, no âmbito de um estudo de viabilidade financiado pela ESA, que pretendia “averiguar o potencial de utilização de dados de satélite para monitorização remota de redes viárias e zonas envolventes”.
Para a análise da A8, a empresa recorreu a cerca de 30 imagens de satélite que remetem para o período entre Agosto de 2018 e Agosto de 2019, explicou, referindo que vários estudos “levados a cabo com esta tecnologia apontam para margens de erro entre cinco e nove milímetros”.
As conclusões do estudo, afirmou Ricardo Cabral, foram comunicadas à Auto-Estradas do Atlântico, a concessionária daquela estrada, no final de Novembro.
Segundo Ricardo Cabral, a Theia está a fazer a mesma análise para outros troços da A1, A8, A13, A17, A19 e linhas de ferrovia do Norte e do Oeste, estando em fase de análise dos resultados.
Questionada pela Lusa, a concessionária referiu que tem estado a acompanhar “com as entidades oficiais a situação da Mina do Ribeiro Seco junto à A8”, sendo que nas inspecções e campanhas periódicas aos pavimentos não detectou quaisquer “irregularidades” no local.
Já a Agência Portuguesa do Ambiente referiu que o processo de avaliação de impacte ambiental está ainda a decorrer, não tendo sido emitida a decisão, que deverá ser comunicada ao proponente até 28 deste mês.
Sobre a avaliação da empresa Theia ao risco de abatimento do pavimento da A8 na zona envolvente à exploração mineira, a agência referiu que, embora não tenha conhecimento do estudo, “o facto de existir uma infra-estrutura rodoviária está obviamente a ser tido em conta na avaliação que se encontra em curso, no âmbito da qual foi solicitada a pronúncia das entidades com competência no âmbito do licenciamento e gestão da referida infra-estrutura”.
A concessão de licença à Mina de Ribeiro Seco prevê uma área total de exploração de 67,6 hectares, localizados nos concelhos da Nazaré e de Alcobaça e atravessados pela auto-estrada.
O pedido de licenciamento foi feito pela empresa Sarbloco, posteriormente adquirida pelo grupo ParaPedra e que adoptou a designação de Sifucel, visando a exploração de minerais para a “produção de quartzo e caulino para abastecimento das indústrias cerâmica, vidreira e de construção civil”, de acordo com os documentos em consulta pública.