O andar ainda revela algumas fragilidades, mas Lucky é, como o nome indica, um cão de sorte e, sobretudo, um “resistente”. Quem o vê hoje a passear-se pelo exterior da zona de boxes do Centro de Recolha Oficial (CRO) de Animais de Ourém, dificilmente imaginará o caminho que teve de fazer para chegar a este ponto.
Após meses de recuperação, Lucky foi escolhido como mascote do CRO, que acaba de completar dois anos, com um total de 500 animais recolhidos e cerca de 400 adopções conseguidas.
A história de Lucky é narrada por Jaqueline Simões, assistente técnica no CRO. Conta que o cão foi resgatado da berma da estrada, “quase cadáver”, por um elemento da equipa de piquete, após o alerta dado por uma moradora, a comunicar que o animal “não se mexia”.
“O meu colega pensava que ia buscar um cadáver. Ao chegar percebeu que ainda respirava, mas não teve muita esperança que se mantivesse vivo”, recorda a funcionária. Lucky chegou ao CRO ainda com vida, mas bastante maltratado. “Era pele e osso. O contorno das costelas via-se perfeitamente. Não se mexia. Não andava, não comia e não ladrava.”
Seguiu-se uma semana de internamento e tratamento numa clínica, que presta serviços ao CRO. Findo esse tempo, as melhoras “eram poucas”. Continuava “a não conseguir levantar-se nem a comer sozinho”.
A opção, conta Jaqueline Simões, foi aceitar a disponibilidade de uma voluntária, que o levou para casa uns dias. Voltou depois ao CRO, onde lhe deram comida à boca com uma seringa. Só passadas umas semanas, começou a dar alguns passos.
“A recuperação, que ainda não é total, demorou mais de seis meses. O nosso Lucky revelou uma grande capacidade de sobrevivência. Lutámos por ele, mas ele também lutou muito. Hoje, está bem melhor e vive à solta no CRO. É a nossa mascote. Não está para adopção.”
O caso de Lucky, um podengo-português, é uma das várias histórias com final feliz vivenciadas nos dois primeiros anos de funcionamento do CRO de Ourém. A de Chocapic até nem começou bem. Depois de ter sido acolhido, sofreu um ataque de outros cães na box – “a logística de juntar os animais é muito difícil” -, ficando “bastante amachucado”. Acabou por recuperar em casa de Jaqueline Simões e, depois, foi adoptado.
Já Rex escapou à morte quase certa ao cair numa armadilha para apanhar javalis. “Ficou preso em cima de um muro. Alguém pediu a nossa ajuda e conseguimos salvá- -lo”, relata a funcionária. Para já, Rex, um pastor alemão de olhar dócil, permanece no CRO, à espera de quem o queira adoptar. É um dos 40 cães que se encontram no espaço, onde, actualmente, estão também perto de 15 gatos.
“Temos um bom ritmo de adopções – 400 em dois anos -, mas os animais não páram de chegar. Estamos completamente lotados”, assume Jaqueline Simões.
Aquando da recente comemoração dos dois anos de CRO, o presidente da Câmara de Ourém, Luís Albuquerque, enalteceu o trabalho desenvolvido pelos técnicos, mas também pelos voluntários, que ajudam, por exemplo, na alimentação ou no passeio dos animais.