Os melhores bodyboarders do planeta estão na Nazaré, onde, por estes dias, competem na penúltima etapa do circuito mundial da modalidade. Já se sabe que a crew local está bem representada, com as estrelas Dino Carmo, António Cardoso e Teresa Almeida à cabeça, sempre na luta por um lugar entre os primeiros.
O que muita gente não sabe é que, após uma longa paragem, o menino-bonito de há uma década está de regresso às ondas, cheio de vontade de recuperar o tempo perdido.
Na vila, na Praia do Norte ou lá dentro, no mar, todos o conhecem por Ben. Um legado que Luís Coelho, hoje com 27 anos, recebeu de Ben Holland, uma antiga estrela que era igualmente louro e usava o mesmo corte de cabelo.
Os talentos em cima da prancha consolidavam esta associação. Ainda para mais, foi ele o primeiro bodyboarder da Nazaré a apresentar resultados de nível, vencendo etapas dos circuitos nacionais e, até, a conquista de títulos nacionais.
Foi ele, de resto, que puxou o pessoal mais novo – como Dino e Tó – para ir surfar. E eles, que o viam como um exemplo, resolveram seguir-lhe as pisadas. Eles continuaram, tornaram-se ícones internacionais da modalidade, mas Luís não.
Porquê? Não por falta de talento, com certeza. Aos 18 anos, numa altura em que já participava em eventos internacionais, começou a sentir necessidade de ter dinheiro nos bolsos. “Pressionado pela família”, resolveu ir trabalhar. Guardou a prancha no sótão e trancou-a nas memórias mais profundas.
[LER_MAIS] Por influência de alguns amigos, alistou-se nos Fuzileiros. Aprendeu muito, sobre tudo, mas acabou por perder o novelo daquilo que mais gostava de fazer. “Perdi o interesse”, recorda. Durante anos a fio, o bodyboard esteve completamente afastado das rotinas e dos pensamentos, até que há um ano, um inexplicável chamamento vindo das profundezas do mar fizeram-no voltar a experimentar.
Foi como andar de bicicleta. E os amigos rapidamente perceberam que o potencial estava todo lá, intacto, pronto a explodir.
No dia em que decidiu inscrever-se nas qualificações do Nazaré Pro, recebeu a bela notícia de que tinha sido um dos atletas escolhidos para receber um wild card, o que o coloca de imediato na fase mais importante da prova. Um apoio que agradece e que serve de tónico para aquilo que mais deseja: com o contrato nos Fuzileiros a terminar, Luís quer fazer o que ainda não teve oportunidade de fazer.
“Quando vejo o pessoal que continuou a competir a correr o mundo, sinto que gostava de lá estar também. Tenho a certeza que quer viver do bodyboard e do mar, seja como atleta, seja como professor. Só realmente me apercebi da importância que tem na minha vida como voltei. Andava mal e não sabia porquê”, explica o atleta.
Agora, no Nazaré Pro, vai para se “divertir”, mas com uma certeza. “Se apanhar boas ondas, sei que tenho surf para eliminar qualquer um.”