No final deste mês, aquele que é considerado um dos maiores “carvalhos cerquinhos da Península Ibérica” será anunciado como um dos participantes no Concurso Nacional Árvore do Ano 2023.
Na quarta-feira, o júri da competição deliberará e, se tudo correr como a Junta de Freguesia do Reguengo do Fetal, no concelho da Batalha, pretende, o “Carvalho do Padre Zé”, passará à etapa final.
Mas atenção, não basta ser-se uma antiga, bela e ímpar árvore autóctone, cujos antepassados se desenvolveram há milhões de anos no nosso território para ganhar esta competição, uma vez que, na edição do ano passado, quem venceu foi… um eucalipto.
Parte da votação é feita online e, com este tipo de avaliação, é fácil de perceber como as coisas correm. Resumindo, para ganhar, é preciso “lóbi” e mover influências!
Brincadeiras à parte, o “Carvalho do Padre Zé” é um forte candidato e não perderá um grama da sua imponência, mesmo que não seja distinguido.
Segundo um estudo realizado por um investigador da Universidade do Minho há quatro anos, esta árvore notável demorou 460 anos a crescer de simples bolota até atingir os actuais 21 metros de altura, com uma copa de 53 metros e um tronco com 6,5 metros na base.
“Deve ser um dos maiores da Península Ibérica”, assegura o presidente da Junta de Freguesia do Reguengo do Fetal.
Fernando Lucas recorda que foi por pouco que a imponente árvore escapou, nos anos 40 do século XX, a ser abatida.
“Naqueles anos de guerra, de crise e de necessidade, começou a cortar-se e a transformar em carvão para venda, os grandes carvalhos que existiam na freguesia.
Dizem que um deles, que existia mesmo ao lado do ‘Carvalho do Padre Zé’, deveria ser, naquela época, do mesmo tamanho ou maior.”
A árvore apenas se salvou pela acção de José do Espírito Santo, o padre Zé, nascido na localidade e sacerdote na paróquia.
“Triste por ver aquele abate de carvalhos tão antigos e nobres, comprou-o para o preservar. Quando morreu, ficou para os seus herdeiros”, conta Fernando Lucas.
Recentemente, alguns familiares doaram à junta de freguesia dois terços do terreno e parte do carvalho.
O terço final é de outra familiar que permite o acesso livre ao local.
Com o tempo, as feridas abertas pelos madeireiros e carvoeiros começaram a sarar e, embora, passados 83 anos as cicatrizes sejam fundas e dolorosas, no local voltou a crescer um pequeno bosque de carvalhos que rodeia o “Carvalho do Padre Zé”, pelo que, actualmente, ele domina as vistas, elevando-se acima de todas as outras copas.
Mais novos preservam a tradição de visitar carvalho
Na base do “Carvalho do Padre Zé”, há um trilho que permite percorrer os dois quilómetros desde a aldeia para o visitar.
Para o futuro do velho carvalho, há apenas uma vontade: preservá-lo.
A ligação da população local com a venerável árvore, tal como acontece noutros locais, também no Reguengo do Fetal conta com tradição.
Em especial entre os mais novos.
A mãe do presidente da junta, hoje com 94 anos, ainda, recentemente, con?denciava que, quando tinha cerca de 10 anos e andava na catequese, era frequente os catequistas levarem as crianças a visitar aquele local mágico.
A tradição continua viva.
“Ainda há dias, os pais e ?lhos do Centro Paroquial de Assistência do Reguengo do Fetal foram lá passear”, recorda Fernando Lucas.