Se um dia destes for passear pela serra da Lousã, não se admire se, entre matos de urze e carqueja, ao virar de uma curva do caminho, olhos grandes e negros, encimados por longas hastes, o olharem curiosos a uma cautelosa distância.
Pelas serranias de Alvaiázere, Ansião, Castanheira de Pera, Figueiró dos Vinhos e Pedrógão Grande vivem livres e selvagens algumas centenas de veados e corços.
Os animais pertencem a uma população total de entre mil a 1300 indivíduos, que, segundo a Universidade de Aveiro, se distribuem pelos sete concelhos que fazem parte da Serra da Lousã – Góis, Lousã, Miranda do Corvo, Penela, Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande e Castanheira de Pera, e ainda pelos municípios de Pampilhosa da Serra, Arganil, Tábua, Penacova, Vila Nova de Poiares e Condeixa-a-Nova, num habitat com mais de 100 mil hectares.
As únicas espécies de cervídeos em Portugal são o veado e corço. Os veados, de hastes ramificadas, são o maior animal selvagem existente no nosso País e o corço, do tamanho de uma cabra e com hastes ponteagudas, é o menor cervídeo europeu, família que reúne os veados, alces, caribus e renas.
Os machos de veado podem atingir os 250 quilos e passam, todos os anos, pelo processo de desmoque – perda de armação – que ocorre normalmente entre Fevereiro e Abril, começando as novas hastes de imediato a crescer.
Estas estão cobertas por veludo, tecido extremamente irrigado, que causa incómodo ao animal que roça nas árvores para endurecer os tecidos. A introdução destas espécies na serra da Lousã começou com uma ideia lançada em 1986, pelos Serviços Florestais, com o apoio de vários municípios locais, com vista ao repovoamento da Zona de Caça Nacional com este animais.
Em 1993, foi dado o primeiro passo para a reintrodução em primeiro lugar corço na serra da Lousã, quando foi criado um cercado com uma área de 20 hectares, para a adaptação dos animais.
Em Fevereiro do ano seguinte, foram introduzidos no cercado duas fêmeas e um macho provenientes de Bragança. A escassez de animais em Portugal acabou por ditar um compasso de espera, enquanto novas fontes de animais eram procuradas.
Apenas em Fevereiro de 1996 foi possível a aquisição de dez casais de veados na Reserve National de Chasse et de Faune Sauvage, da Forêt Domaniale de Chizé, em França. Ao mesmo tempo, foram libertados na serra 17 corços.
O processo continuou ao longo dos anos e, hoje, a população é estável e um dos ex libris do norte do distrito de Leiria e restantes concelhos circundantes. As entidades ligadas ao turismo de natureza e os municípios estão, a pouco e pouco, a aproveitar as potencialidades desta riqueza natural.
“São cada vez mais as iniciativas levadas a cabo por diversos agentes do território no sentido de se promover a observação dos veados em estado selvagem nesta região serrana. A rede das Aldeias do Xisto têm colaborado nestas acções e a maioria dos municípios da Serra da Lousã ou de empresas municipais associadas promovem, anualmente, visitas guiadas para observação dos veados.
Há também associações privadas e empresas de animação turística que já apresentam esta oferta que tem tido uma procura crescente”, refere Carlos Fonseca, do Departamento de Biologia da Universidade de Aveiro.
Observação de veados
Se está a preparar uma ida à Lousã e espera ver animais juvenis a acompanhar os adultos, fique a saber que, depois da Brama, a época do cio e acasalamento dos cervídeos e quando os bramidos dos machos se fazem ouvir na serra, decorre a época da gestação que se prolonga até à Primavera, entre Março e Abril.
“Altura em que ocorre a maioria dos nascimentos. Os juvenis observam-se no Verão e Outono, normalmente acompanhados pela fêmea progenitora”, explica o docente da Universidade de Aveiro. As crias até aos dois meses de idade apresentam manchas dorsais brancas, que ajudam à camuflagem na vegetação.
Na serra existem vários percursos pedestres e rotas que possibilitam o avistamento dos animais e de muitos dos seus vestígios: marcações nas árvores, trilhos, dejectos ou pegadas. Os caminhantes atravessam zonas florestais, com carvalho e pinheiro alpino, e extensos matos de urze e carqueja, que são o seu habitat preferencial. Obviamente, sendo os veados e corços animais esquivos, recomenda-se moderação no volume de ruído.
Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo