A família Campos tem um legado bem vincado no andebol de Leiria. O avô António passou a paixão a quatro dos cinco filhos e o desporto da bola na mão passou para a geração seguinte.
Rita Campos é a primeira da família a jogar num clube internacional. Aos 18 anos a sua aventura começa já no dia 2 de Agosto, quando aterrar em Bergen. Dia 3 começa a pré-época num dos maiores clubes da Noruega.
A qualidade da pivot formada na Juventude Desportiva do Lis não passou despercebida ao técnico Morten Fjeldstad, que a convidou para jogar no TIF Viking, da 2.ª divisão. “O Morten Fjeldstad foi ver o Campeonato Europeu de Sub-17 na Eslóvenia. Apesar do 13.º lugar tivemos uma boa prestação e ganhámos a equipas que ficaram bem classificadas. Foram convidadas dez atletas. Eu e a Vera Costa (Benfica) aceitámos”, conta Rita Campos.
A respirar andebol por todos os poros, Rita Campos entende que esta é uma “oportunidade únic a” para desenvolver as suas qualidades como atleta. “O andebol em Portugal não tem muita visibilidade. A Noruega é um dos melhores palcos do mundo no andebol feminino e tem o melhor campeonato do mundo, com jogadoras de topo. Acredito que vou aprender muita técnica individual e desenvolver-me como jogadora”, salienta.
[LER_MAIS]A atleta considera ainda que a Noruega é um país “muito desenvolvido”, pelo que também será uma mais-valia para o seu futuro profissional.
A jovem está no 12.º ano do curso profissional de técnico de turismo. Transferiu-se da Escola Secundária Rodrigues Lobo, em Leiria, para a Escola Secundária Bordalo Pinheiro, que integra as Unidades de Apoio ao Alto Rendimento na Escola (UAARE). Os aspectos burocráticos ainda estão a ser finalizados, mas está previsto a estudante ter aulas à distância e realizar as 600 horas de estágio na cidade de Bergen.
O local está garantido pelo clube. “Será com os proprietários da TimeOut. Será uma vantagem, porque vou fazer o estágio todo em inglês. Além de ir melhorar esta língua, vou também tentar aprender norueguês.”
Aos 18 anos, Rita vai viver sozinha (divide casa com Vera Costa) pela primeira vez, longe de família e amigos. “Vou ter saudades, mas acredito que me vou adaptar bem. Vou ter de me organizar muito bem, sobretudo com as refeições. O clube dá-nos um valor para comprar comida, que teremos de confeccionar em casa”, revela.
As grandes diferenças que vai encontrar na terra do bacalhau são o clima e os períodos em que é sempre noite ou sempre dia. “Acho que vou ultrapassar isso bem. Já estive na Noruega e, pelo menos o frio, é diferente do nosso. Mesmo com temperaturas negativas sente-se menos”, constata.
Além de suportar o alojamento e a alimentação, o TIF Viking Håndball vai permitir que a atleta realize trabalho social, que será remunerado. “É uma forma que os clubes nórdicos têm para ajudar na integração dos atletas estrangeiros e de recebermos dinheiro.”
Rita Campos não tinha muito conhecimento sobre o clube. Apenas sabia que o português Miguel Sarmento também joga lá. “Por aquilo que andei a pesquisar já sei que é um grande clube, tem bastantes modalidades, em feminino e masculino, e até desportos de Inverno. A equipa para onde vou está na 2.ª Divisão e ficou no último lugar, mas de certeza que a competitividade neste escalão deve ser idêntica à nossa 1.ª divisão”, alerta.
Com um novo treinador, o objectivo é a subida de divisão. Morten Fjeldstad procurou, por isso, renovar a equipa com atletas novas e de qualidade, uma espécie de diamantes em bruto, que podem ser lapidados da melhor forma.
Rita Campos admite que a sua forma de jogar será diferente até porque o campeonato norueguês é “muito mais fluído e corre-se muito para a frente e para trás”.
“Terei de ganhar mais cardio, mais velocidade e mais reacção. O trabalho físico é mais intenso. Vou adquirir mais técnica”, afirma, revelando que já está a realizar a sua pré-época em Portugal, com treinos bi-diários.
Além da tristeza que é deixar a família e a sua “vovó” em Portugal, Rita Campos admite que os dez anos da Juve também lhe deixarão marcas para sempre. “Mais cedo ou mais tarde isto iria acontecer. Era algo que ambicionava, só não esperava que fosse tão rápido. Agora é preciso arriscar.”
As videochamadas vão reduzir a distância para a família, que a apoia a 100%, o que lhe dá ainda “mais força” e “ânimo” para seguir com o seu sonho.
O treinador da Juve, Diogo Guerra, também a incentivou. “Disse-me que era um dos pilares da equipa, mas que o trabalho dele é mesmo o de ajudar as atletas a seguirem para outros clubes. Para mim, é mais fácil ir jogar para o estrangeiro do que ir para uma equipa portuguesa e depois ter de defrontar a Juve”, confessa.
Será um ano de aprendizagem e crescimento, mas com a determinação e os olhos postos mais acima: a selecção nacional A. “O contrato é por um ano, mas há a possibilidade de se estender. Vamos ver como corre tudo. Um dos meus objectivos é melhorar para chegar à selecção A. Quando vejo que atletas mais velhas, que jogaram comigo nos Sub-17 já estão na selecção principal, acredito que também posso chegar lá”, assume.
A jovem assistiu à Final Four da Champions League feminino, em Budapeste, há quatro anos. “Pensei: eu quero chegar aqui.” O caminho está a traçar-se.