Em Portugal, 50% das horas de trabalho são susceptíveis de automatização até 2030, cenário que tornará redundantes 1,1 milhões de postos de trabalho, sobretudo na manufactura e agricultura.
Na região Centro, serão perdidos 240 mil empregos, de acordo com o estudo O futuro do trabalho em Portugal – impactos na zona Centro, promovido pela Confederação Empresarial de Portugal.
A nível nacional, para responder aos desafios da digitalização, 700 mil pessoas terão de alterar as suas ocupações laborais. Na zona Centro serão 134 mil os trabalhadores que será preciso requalificar.
Se nesta região se perspectiva a perda de 240 mil empregos (cerca de 22% do total do País) devido à automatização, o estudo aponta igualmente para a criação de 130 mil novos postos de trabalho. Mesmo assim, em alguns sectores, como a manufactura e a agricultura, as mais afectadas pela automação, o saldo será negativo.
No caso da indústria, com um saldo negativo de 44 mil postos de trabalho, sectores como os plásticos, borracha, minerais não metálicos, alimentos, bebidas e tabaco deverão estar entre os mais afectados.
Na agricultura poderão perder-se 15.600 empregos. Nesta actividade, a força de tabalho actual é mais envelhecida e menos escolarizada, o que “cria desafios acrescidos” quando se pensa em requalificação.
“A digitalização criará novas oportunidades de emprego”, apontou João Duarte, da Nova School of Business and Economics durante a apresentação do trabalho em Leiria. “O grande desafio está na requalificação da mão-de-obra”, alertou.
E na “mudança estrutural da economia”, porque os novos empregos serão criados em sectores diferentes.
A análise regional resultou de um protocolo de colaboração entre a CIP e a Nova e é um trabalho realizado na sequência de um estudo nacional divulgado em Janeiro pela confederação, sobre o impacto da automação no futuro do trabalho.
Em Leiria, João Duarte lembrou que “é preciso aumentar a produtividade”, desígnio em que a automação “pode dar um forte contributo”.
O estudo nacional frisa, precisamente, que o aumento de produtividade resultante da automação será a principal fonte de criação de novos postos de trabalho. Mas “até ser alcançado um novo estado de equilíbrio, a transição no curto prazo será desafiante, devido a divergências na procura e na oferta de trabalho nos diferentes sectores e tipos de ocupação laboral”.
“Para enfrentar os desafios e capturar as oportunidades da automação, bem como minimizar os desafios da transição, será necessária uma avaliação profunda das implicações da automação e a execução de um plano claro de requalificação dos cidadãos”.
A Panicongelados é uma das empresas da região que têm “apostado constantemente” em automação. Tânia Silva, controller financeira, explicou na sessão realizada na Nerlei que a empresa de Leiria acaba de investir num armazém completamente automatizado, em que o robot é que escolhe o local onde vai armazenar as paletes.
Com os processos cada vez mais automatizados, a que se dedicam os trabalhadores? Têm sido redireccionados para posições de controlo das linhas de produção, investigação e desenvolvimento, marketing e gestão de redes sociais, entre outros aspectos.
Em 2009, 72% dos trabalhadores da empresa estavam ligadas ao chão de fábrica, agora são apenas 59%. “Independentemente da automatização, os recursos humanos são o recurso mais valioso”.
As máquinas de CNC, os robots e outras tecnologias substituíram os serrotes e outras ferramentas, mas não as pessoas, garantiu no evento Patrícia Henriques, responsável de marketing da Solancis.
[LER_MAIS] A empresa de extracção e transformação de pedra da Benedita conta com 125 trabalhadores, mas apenas 16 directamente ligados às pedreiras. A digitalização veio alterar processos e permitir, por exemplo, que a empresa perceba todo o percurso de uma pedra, desde a sua extracção até ser entregue ao cliente.
Também Luís Febra defendeu que as organizações precisam de pessoas, até porque os investimentos em novas tecnologias são constantes e é preciso rentabilizá-los.
O administrador do Grupo Socem (Martingança) considerou que, mais do que requalificar, é preciso ensinar as pessoas a adaptar-se a novas realidades, a “alargar a sua zona de conforto”.
Para o empresário, um dos principais desafios da digitalização, para quem lidera organizações, é “manter as pessoas felizes, durante um período largo de trabalho, a fazendo as mesmas coisas”.