Que balanço faz o presidente da Banda de Alcobaça/ Academia de Música da edição deste ano do Cistermúsica?
É, necessariamente, um balanço muito positivo. Desde logo, ao nível artístico, com concertos e bailados de grande qualidade, muitas estreias em Portugal e algumas delas, como a do Quarteto de Cordas Henschel, que é dos melhores do mundo e que só agora veio ao País, suplantaram todas as expectativas. Também os jovens valores estiveram em destaque, como o pianista Vasco Dantas, um jovem português que faz o seu percurso no estrangeiro e é um virtuoso a quem está destinada uma grande carreira. Tenho, igualmente, de destacar os concertos sinfónicos. Não só no encerramento, com um concerto dedicado às temáticas do festival – Admirável Mundo Novo e 400 anos da morte de Shakespeare -, mas outro de grande qualidade, protagonizado por jovens músicos portugueses, através da Orquestra Estágio Gulbenkian, com a maestrina Joana Carneiro a dirigir. Por tudo isto, fazemos um balanço muito positivo dos 36 eventos, de um ponto de vista artístico. Houve menos público do que no ano passado, é verdade. Em 2015, alcançámos um recorde de assistências, mas isso teve que ver com os dois espectáculos que abriram e encerraram o festival. O primeiro foram os Carmina Burana, uma obra de grande impacto ao nível de público, trazendo mais de mil pessoas, e o segundo, além de ter sido o Requiem, de Mozart, foi executado na nave central do mosteiro de Alcobaça e com entrada livre. Nesse, também contabilizámos cerca de mil pessoas.
Isso significa que também veio muita gente de fora de Alcobaça?
Sim, desses concertos, temos essa ideia. Este ano, ficámos um pouco abaixo, com cerca de cinco mil espectadores, mas, de qualquer forma, foi a terceira melhor assistência de sempre e, desse ponto de vista, ficámos satisfeitos, embora haja espaço para melhorar, até porque, em 2017, comemoram-se os 25 anos do festival e queremos fazer o melhor de sempre, o mais simbólico da história deste evento, que, no Verão, na área da música erudita, é o maior do País.
Há uma ligação indelével entre o Cistermúsica e o património cisterciense.
É uma ligação que corre bem. Com as várias direcções do mosteiro tem sido possível articular este festival em Julho – era em Maio -, tornando-o no grande evento cultural que o espaço apresenta ano após ano. Pretendemos valorizar aquele património edificado e o turismo cultural, além disso, acreditamos que há cada vez mais portugueses e estrangeiros a deslocarem-se nesse mês para aproveitar a música naquele cenário lindíssimo. Aliás, nos últimos anos, temos apostado na descentralização do Cistermúsica com outros monumentos cistercienses. No ano passado, inaugurámos uma Rota de Cister com seis espaços históricos associados. Este ano, repetimos essa rota e o Festival de Música de Alcobaça não é já só de Alcobaça, todos os anos levamos espectáculos a outros mosteiros cistercienses. Em 2016, fomos ao mosteiro de Lorvão, em Penacova, ao de Lafões, em São Pedro do Sul, ao Convento das Bernardas, em Lisboa, e ainda ao mosteiro de Arouca. O Cistermúsica é um grande festival em termos de qualidade artística. De um ano para o outro, o público mais do que duplicou de um ano para o outro, em Penacova.
Grandes números nas audiências não reflectem a qualidade.
Exacto. Sobretudo a este nível. Uma das grandes apostas do festival é ter manifestações artísticas de grande qualidade, como o bailado e a música erudita, apresentadas num património único. Os melómanos costumam deslocar- se em função de uma determinada obra muito conhecida ou agrupamento de qualidade. A notoriedade também conta e nós tentamos equilibrar todas essas características, até porque o Cistermúsica presta um verdadeiro serviço público e é dos poucos que dá, primordialmente, atenção à música portuguesa. Todos os anos estreamos ou passamos obras que não são ouvidas em público há décadas. Também apostamos muito em jovens valores.
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