Formada em Farmácia, Sabrina Oliveira acaba de ver reconhecido o seu trabalho na área da terapia foto-dinâmica do cancro, com o Conselho Europeu de Investigação a atribuir à cientista de Leiria, actualmente na Universidade de Utrecht (Holanda), um financiamento de 1,5 milhões de euros.
Este apoio, vai permitir-lhe continuar com a sua linha de investigação, que, já em 2012, lhe havia valido uma bolsa de uma organização holandesa (Netherlands Organisation for Research). “O meu objectivo é melhorar um tratamento que já é testado desde os anos 70 [do século XX], mas que tem uma eficácia limitada, que pode ser melhorada, de forma a que os doentes com cancro possam beneficiar dela de forma mais significativa”, explica a investigadora, que nasceu em França, mas que aos 8 anos veio para Leiria, terra natal dos pais.
Em causa está a terapia foto-dinâmica, que consiste na administração de um composto químico – o foto-sensibilizador -, na corrente sanguínea por via intra-venosa. Dois a quatro dias depois, é aplicado “um feixe de luz” na zona do tumor .
“Quando estes dois elementos se encontram, produzem-se formas tóxicas de oxigénio que levam à morte de células cancerígenas”, explica Sabrina Oliveira, revelando que, tal como é aplicada hoje, a terapia apresenta alguns problemas, que advêm da “hidrofobicidade dos foto-sensibilizadores que interagem com as células ao acaso”, sem qualquer especificidade para as cancerígenas.
Isso leva a que “se danifiquem tecidos normais adjacentes ao tumor”. Ora, com a sua investigação Sabrina Oliveira propõe-se encontrar estratégias para aumentar a eficácia e a especificidade dos foto-sensibilidades.
Como? Utilizando fragmentos de anticorpos, chamados nanobodies, que “são mais pequenos que os anticorpos convencionais” e que se “distribuem mais rapidamente”, acumulando-se no tumor “uma ou duas horas” após a administração e permitindo que “a luz seja aplicada também neste curto espaço de tempo”.
Assim, reduzem-se os efeitos colaterais, porque os “nanobobies se direccionam especificamente para as células cancerígenas”, nota Sabrina Oliveira, sublinhando ainda que será também possível direcciona-los para as “células endoteliais dos vasos sanguíneos dos tumores, de modo a assegurar a regressão completa do tumor e a cura”.
Percurso
Na Holanda há dez anos
Sabrina Oliveira nasceu em França há 35 anos, mas com 8 anos anos foi viver para Leiria com os pais, quando estes regressaram à terra natal. Formou-se em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de Coimbra e já na fase final da licenciatura foi, pela primeira vez, à Holanda, como estudante de Erasmus, para trabalhar num projecto de investigação durante seis meses.
Depois dessa experiência, conseguiu a uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia para fazer o doutoramento na Universidade de Utrecht (Holanda). Pensava então ficar mais quatro anos fora de Portugal, mas no final foi convidada a fazer um pós-doutoramento no departamento de biologia da universidade.
Na ocasião, conseguiu uma bolsa da Netherlands Organisation for Research, que lhe permitiu iniciar a sua própria linha de investigação, à qual irá agora dar continuidade através do prémio atribuído pelo Conselho Europeu para a Investigação.
Regressar a Portugal está nos seus planos. Só não sabe dizer quando.
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