O que o fez trocar um hospital central, como o Santa Maria, pelo Centro Hospitalar de Leiria (CHL)?
O projecto deste hospital. Ou seja, começar um serviço a partir do zero, em que posso escolher o espaço, as pessoas, o material e um bocado do sentido do serviço. É completamente diferente de pegar num serviço que já tem uma cultura e tem muitos erros e virtudes. Agradou-me imenso a disponibilidade da administração do hospital para investir num projecto, desde que ele tivesse uma lógica. Por outro lado, apesar de Santa Maria ter coisas extraordinárias, era um sítio onde eu estava a fazer o mesmo há já bastante tempo. Foi um novo desafio e não sou nada avesso a mudanças. Estou cá há seis ou sete meses e não me arrependo.
Quais as principais diferenças entre trabalhar num hospital central e num hospital distrital?
As diferenças são sobretudo no tamanho. O Santa Maria tem um turnover de doentes que é uma brutalidade, o que faz com que aquela casa tenha a qualidade que tem. É, sobretudo, este conjunto de gente e de doentes que faz com que seja, digamos, uma medicina de guerra mais especializada. O hospital de Leiria não tem esse turnover, mas tem organização. Percebe-se que todos os movimentos da casa têm um sentido. O que idealizou para o serviço de Pneumologia do CHL? O CHL tem cerca de 400 mil habitantes de influência, o que é muito. Do ponto de vista respiratório, é uma população que tem estado habituada a estar desligada do CHL, porque até aqui não tinha resposta. Agora estamos a mudar o circuito. Há ainda muitos doentes que têm o seu médico de família, de vez em quando também vão ao particular, porque Coimbra é muito longe, e andam um bocado perdidos entre médicos. Agora estão a começar a regressar à sua instituição de base, que somos nós. Vamos oferecer áreas novas, quer na parte da fisiopatologia quer na parte de pneumologia. Vamos também oferecer o laboratório do sono e uma unidade de pneumologia de intervenção. Ou seja, se o projecto funcionar, iremos fazer o mesmo que Santa Maria. Não quer dizer que queiramos competir com eles, queremos é que o CHL satisfaça a sua população e evite que estas pessoas tenham que fazer cento e tal quilómetros para ter tratamento.
A braquiterapia endobrônquica foi introduzida em Portugal por si. Também utilizará esta técnica em Leiria?
A braquiterapia é uma modalidade endobrônquica de radioterapia, que pode ser realizada em tudo o que tiver a forma de um tubo no corpo humano, desde o útero a brônquios ou ao esófago. No serviço de radioterapia do Hospital de Santa Maria comecei com a colocação do cateter para depois os colegas da radioterapia fazerem a administração da braquiteria em doentes com patologia neoplásica pulmonar. Esta técnica não é para este hospital, primeiro porque não tem serviço de radioterapia, segundo porque é uma tecnologia cara que tem um prazo de validade curto, pelo que tem de ser optimizada ao máximo, o que só poderá acontecer em centros de referência, como Lisboa e Porto. Já estamos a fazer pontes com o Instituto Politécnico de Leiria e percebi que existem empresas com tecnologia na área dos polímeros, nos plásticos e na fabricação de devices em silicone e nos chamados medical device.
Quantas pessoas sofrem de doenças respiratórias na área de influência do CHL?
Não tenho números precisos, mas na patologia pulmonar ligada à exposição profissional devem ser muitos, sobretudo de pequenas e médias empresas da área do vidro, plástico ou serralharias. Também há muita patologia importada, ou seja, há uma grande quantidade de pessoas que estiveram em França ou na Alemanha, que tiveram contacto com pneumopoluentes em exposição profissional contínua e que agora estamos a recebê-los. Há outras patologias como o défice de alfa 1, que aqui já tem uma incidência elevada em relação a outros pontos do País. Depois há a patologia comum a todos os lugares que é a ligada ao tabaco. O tabagismo é o primeiro problema da saúde pública seja em Leiria, Portugal, na Europa ou no mundo inteiro. Aqui também há muito o costume da lareira em casa, quer como fonte de aquecimento como para cozinhar, portanto há também muita patologia ligada à inalação de fumo. Doentes não faltam. Temos é de ter condições para responder às solicitações e posso dizer que elas são óptimas. Não sei se vamos conseguir responder como queríamos em certas áreas, sobretudo na patologia do sono, que 'entope' qualquer consulta que abra. A medicina é sempre assim, enquanto nas outras áreas a procura é que faz a oferta, na medicina a oferta é que faz a procura. A partir do momento em que abrimos uma porta, no dia seguinte temos uma fila enorme. A curto prazo vamos entrar em colapso. Há muita gente que nos irá procurar, porque estes exames são muito caros no privado e a resposta em Coimbra estava amputada, porque estes centros acabam por ficar em limite.
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