Um recente artigo do jornal espanhol El País, escreveu sobre os mais de 100 anos de vida dos estúdios de Hollywood, apresentando as razões pelas quais os especialistas em cinema afirmam que ainda hoje, por ali, se usam os mesmos seis planeamentos possíveis para desenvolver uma história.
As “Histórias de Ícaro” – ascensão e queda de um herói, as “Histórias de Orfeu” – viagens de ida e volta ao inferno ou as “Histórias da Cinderela” – um herói que parte de origens muito humildes, enfrenta enormes obstáculos e atinge a grandeza sem comprometer a sua integridade e no final recebe a sua merecida recompensa que é o sucesso, o amor e a felicidade.
Estas são três das seis hipóteses que os argumentistas de Hollywood, e não só, utilizam quando pretendem escrever um filme com que o grande público rapidamente se identificará. Depois entram os realizadores que transformam estas histórias, semelhantes entre elas, em grandes obras cinematográficas que nos tocam a todos.
Feliz ou infelizmente tudo não passa de cinema que depois nós rapidamente transportamos para a realidade e tentamos fazer do nosso percurso uma história romântica de Hollywood com heróis e heroínas entre as nossas famílias e amigos.
O problema surge quando nos apercebemos que a nossa vida não segue sempre os mesmos seis planos utilizados pelos grandes estúdios de cinema e que por isso o final nem sempre acaba bem.
Talvez por isso seja mais seguro optarmos por um dia-a-dia mais genuíno e menos feito de aparências plásticas que nos toldam a visão e o espírito. Sermos mais terra-a-terra, mais francos connosco e com os outros e também mais práticos e sempre com o máximo carácter.
Foi precisamente isso que eu senti, recentemente, na celebração dos 25 anos de casamento de duas pessoas que muito estimo. A Sandra e o Rogério, dois seres humanos simples, puros e dignos que fogem aos padrões fictícios das fábulas de Hollywood.
Duas pessoas que se amam incondicionalmente e que naquele dia me mostraram que o verdadeiro amor também pode ser observado através de um olhar enternecedor um do outro. E que a admiração, o respeito e a entreajuda são condição máxima para estarmos rodeados de paixão e felicidade.
Na verdade, devemos estar mais atentos a histórias reais como esta e dar-lhes mais importância e valorizá-las como elas merecem.
Deixemos as histórias dos filmes dos príncipes e das princesas guardados no nosso perfil da “Netflix” e façamos das nossas vidas um guião único, puro e muito mais autêntico.