A poesia é menos conhecida do que a prosa e o vibrafonista Paulo Santo leu pela primeira vez poemas de José Saramago para compor sob encomenda da Leiria Cidade Criativa da Música Unesco. A partir dos versos de “Quem diz tempo, diz lugar”, o músico assina “um arranjo de jazz que não soa a standard”, pelo contrário, aproxima-se do formato “canção” e exprime “uma sonoridade portuguesa”.
Já o organista João Santos, a escrever para ensemble de sopros, apresenta “paisagens sonoras” que procuram espelhar o ambiente das várias estrofes de “Intimidade”, o que resulta numa peça “calma”, “introspectiva” e “meditativa”.
As obras, inéditas, são tocadas ao vivo durante o primeiro Festival Leiria Cidade Criativa da Música, que nos dias 16, 17 e 18 de Novembro reúne 17 trabalhos originais inspirados na poesia (e num conto) do português Nobel da Literatura, todos em estreia absoluta.
A entrada é livre.
O espectáculo A Maior Flor do Mundo, colaboração entre o Leirena Teatro e a cantora e compositora Surma, com base no texto para a infância com o mesmo título escrito por José Saramago, ocupa o primeiro dia, no Teatro José Lúcio da Silva.
A poesia de Saramago é o mote nos dois dias seguintes. Na quinta-feira, 17, já no Teatro Miguel Franco, a cantora Rita Maria e o septeto jazz da Associação Jazz de Leiria vão interpretar temas encomendados a compositores locais (César Cardoso, Pedro Nobre e Paulo Santo) e nacionais (Mário Laginha, Pedro Moreira e Bruno Santos), além de composições seleccionadas através de concurso, da autoria de João Capinha e Diogo Santos.
No último dia, 18 de Novembro, dedicado à música contemporânea, o palco do Teatro Miguel Franco recebe o ensemble de sopros da Associação de Filarmónicas do Concelho de Leiria, o maestro Nicholas Reed e a soprano Rita Marques. O programa contempla peças de Anne Victorino de Almeida, Carlos Azevedo e Carlos Brito Dias (compositores de fora da região) e Nuno Barradas, André Barros e João Santos (compositores da região), além de Nélson Jesus e David Teixeira da Silva (seleccionados por concurso).
O centenário de José Saramago assinala-se a 16 de Novembro e é comemorado na primeira edição do Festival Leiria Cidade Criativa da Música através do “diálogo entre a música, o teatro e a literatura”, realça a vereadora da cultura da Câmara de Leiria.
No lançamento do evento, na semana passada, Anabela Graça lembrou que a organização endereçou encomendas a artistas locais e nacionais e ainda seleccionou quatro novas composições, através de concurso, realizado pela primeira vez. A ambição do município é, através da Rede das Cidades Criativas da Unesco, a que Leiria pertence, “levar esta música fora de fronteiras”, como “forma de internacionalização”.
“O Festival é uma incubadora e diferencia-se de todos os outros pela criatividade, pela criação e pela originalidade”, acredita Daniel Bernardes, director artístico da Leiria Cidade Criativa da Música Unesco. “É muito difícil para jovens compositores conseguirem afirmar-se no mercado de trabalho” e “irem para além da escrita para a gaveta”, daí o “ímpeto criativo” da iniciativa, que tem por objectivo “potenciar compositores emergentes de Leiria”.
“Estimular os músicos de Leiria a tocarem música feita hoje e estimular também os criadores locais para escreverem música”, salienta Daniel Bernardes.