Francisco Fidalgo, João Gonçalves, João Monteiro, Rodrigo Agostinho, Rodrigo Ferreira e Rafael Soares. Por quatro dias, estes miúdos vão armar-se em engenheiros espaciais e lançar um micro-satélite, com um ser vivo lá dentro, e confirmar que há vida no planeta… Terra.
Os alunos de três turmas do 11.º ano da Escola Secundária Domingos Sequeira, em Leiria, são finalistas do CanSat, um projecto educativo do ESERO Portugal, organizado pela Ciência viva e pela Agência Espacial Europeia (ESA). Entre 26 e 29 de Abril vão estar na Ilha de Santa Maria, nos Açores, a disputar com outras 15 equipas o primeiro lugar da competição.
Semelhante ao que acontece num programa espacial real, sob a coordenação do professor António Pedro, os jovens são responsáveis por desenvolver um pequeno satélite, cujos sistemas base (antena, bateria e sensores) terão de estar integrados num modelo idêntico a uma lata de refrigerante.
Foram enviados relatórios do progresso aos especialistas da ESA, que aprovaram o voo do micro-satélite. Com esta competição, os estudantes têm a oportunidade de passar por todos os estágios de um projecto espacial real: escolher os objectivos da sua missão, projectar o CanSat, integrar todos os seus componentes, testar o sistema, preparar para o lançamento e analisar os dados científicos obtidos.
A missão compreende uma pequena história. “Vamos lançar um ser vivo, neste caso, uma barata argentina, para o ‘planeta X’, e verificar as condições de habitabilidade. Para tal, é preciso monitorizar e recolher dados ao longo do lançamento”, explica António Pedro.
“A construção de um microsatélite compreende várias fases, desde a preparação teórica ao sistema de recuperação, sensores, programação, idealização e construção. O objectivo é que este micro- satélite seja lançado por um foguete ou por um avião até um quilómetro de altura. A missão primária de cada equipa consiste em obter dados de temperatura do ar e da pressão atmosférica”, adianta Rafael Soares, referindo que a transmissão é realizada por telemetria dos parâmetros medidos para a estação terrestre, onde vão estar, é realizada por telemetria.
[LER_MAIS] A missão secundária é “averiguar se é possível haver a existência de vida no planeta onde vai aterrar o satélite”. “Como vamos averiguar isso? Vamos monitorizar o comportamento da barata durante a queda, através de uma micro câmara de vídeo”, acrescenta Rodrigo Agostinho.
João Monteiro sublinha que as informações que vão receber na estação terrestre chegam “não só através do vídeo”, mas também por “via de ondas de rádio”, captadas por uma antena, que irão ajudar a avaliar a “pressão atmosférica, a temperatura e a percentagem de oxigénio e de ultravioleta”. O sinal GPS irá localizar o satélite após a queda.
Segundo a Ciência Viva o satélite será enviado por um avião alugado pela organização para este fim, que irá largar os equipamentos a cerca de um quilómetro do chão. “É uma queda de cerca de 15 segundos e só a partir dos 300 metros é que temos sinal de rádio, explica João Monteiro.”
A leitura dos parâmetros serão representados graficamente e apresentados a um jurado, que atribuirá os primeiro, segundo e terceiro prémios.
Centimfe e IPL envolvidos
Depois de desenhado o protótipo do CanSat, as peças foram produzidas no Centro Tecnológico da Indústria de Moldes e Ferramentas Especiais e Plásticos (Centimfe), um dos parceiros do grupo, que contou ainda com a colaboração de dois professores do departamento de Engenharia Electrotécnica do Instituto Politécnico de Leiria e da Força Aérea, que lhes forneceu o tecido para construírem os paraquedas que vão suportar a queda do objecto.
A escola também se envolveu no projecto. Os professores de Informática e Electrónica colaboraram com os alunos, a direcção suportou os custos e os restantes docentes agendaram os testes de modo a não prejudicar este grupo, que estará ausente na próxima semana.
“Tudo foi construído com base na física e em cálculos, que deram uma estrutura elástica ao CanSat, tornando-o leve e com amortecimento quando cair”, adianta António Pedro, ao sublinhar que a vantagem deste projecto é que, “aproveitando aquilo que são outras formas de conhecimento que estão para fora da escola, com apoios e dicas, os alunos adquiriram know how e tornaram-se autodidactas em muita coisa”.
Programação Matemática, Física, Electrotécnica, Biologia e Inglês (apresentação será nesta língua) são as disciplinas que os jovens tiveram de aplicar no desenvolvimento do seu micro-satélite. “Há uma interligação e uma visão integrada de saberes.”
Guaxinins representam Leiria
Os seis alunos constituem a equipa Procyon, que significa guaxinim em latim. Este é o nome da estrela mais brilhante da constelação de Cão Menor e a nona estrela mais brilhante no céu nocturno. Os jovens, que têm como objectivo de vida seguir áreas como engenheira, astrofísica ou investigação científica, prometem apenas “dar o melhor” na competição CanStat Portugal. Se vencerem o primeiro lugar, a Escola Secundária Domingos Sequeira será a representante do País numa finalíssima internacional, que este ano também se realiza na Ilha de Santa Maria, nos Açores.