“É notável” como em algumas regiões “parece existir um vírus empreendedor”, que faz com que “as coisas vão sempre acontecendo”.
É o caso da região de Leiria, considerou segunda-feira o ministro Adjunto e da Economia, que falou no jantar-conferência promovido pelo JORNAL DE LEIRIA para assinalar a publicação de mais uma edição da revista 250 Maiores Empresas do Distrito de Leiria.
Na iniciativa, que reuniu cerca de 235 pessoas no edifício Nerlei, Pedro Siza Vieira elogiou o dinamismo, o espírito de iniciativa e a capacidade de inovar do tecido empresarial de Leiria. “As pessoas alimentam-se umas às outras desta capacidade de empreender, de inventar, de perceber como podem ser relevantes, de enfrentarem dificuldades”.
Se o exemplo de Leiria “fosse seguido” e frutificasse, poderíamos ter um País “mais rico e mais próspero”.
Se é verdade que esta é uma das regiões “mais pujantes do nosso País”, como também lembrou João Nazário, director do JORNAL DE LEIRIA, não é menos verdade que nem sempre tem a atenção que reclama.
E aqui os empresários “só reclamam para poder trabalhar”, como lembrou João Vasconcelos, ex-secretário de Estado da Indústria, que apresentou à sala o percurso profissional do ministro.
Siza Vieira começou por reconhecer o “exemplo” que é o Politécnico de Leiria no sistema nacional, afirmando que é “reconhecida a sua ligação forte” ao tecido empresarial e o contributo que dá para o seu dinamismo.
Lembrou que a economia portuguesa vive um bom momento, de crescimento, depois de anos de encerramento de empresas e de destruição de valor.
Os “protagonistas são os empresários, que enfrentam os desafios, os constrangimentos, as limitações, as dúvidas, mas também as muitas esperanças que temos no nosso País”.
As exportações têm crescido, passando de 28% do Produto Interno Bruto (em 2008) para 45%, este ano, mas há que insistir neste percurso, e chegar a pelo menos 50%, frisou o governante.
Também no que toca ao investimento há ainda trabalho a fazer. Apesar do crescimento dos últimos anos, só agora o investimento produtivo voltou aos níveis que registava em 2008.
Siza Vieira disse que, no contexto da reprogramação do Portugal 2020, os sistemas de incentivos ao investimento empresarial serão reforçados com verbas que não foram utilizadas.
Até agora, o programa já apoiou nove mil milhões de euros de investimento, o que se pretende é asssegurar, até ao final do quadro comunitário, cinco mil milhões de euros de apoios ao investimento empresarial.
O ministro da Economia referiu igualmente que as linhas Capitalizar – criadas em 2016, num momento em que “praticamente não havia crédito bancário e o que havia era caro”, vão ser reforçadas.
Desde a sua criação, “foram um balão de oxigénio” e permitiram fazer chegar ao tecido empresarial cerca de três mil milhões de euros de crédito.
Por outro lado, o governo tem vindo a alargar os benefiícios fiscais ao investimento produtivo e à capitalização das empresas. Em 2017, estas usaram quase 400 milhões de euros de benefiícios fiscais nesse âmbito, revelou o governante.
Energia: custos “penalizam bastante” as empresas
Continuam, contudo, a subsistir entraves à competitividade das empresas. Um deles são os custos energéticos, problema levantado logo no início do evento por António Poças, novo presidente da Nerlei e repetido já em período de debate por Vítor Poças, presidente da associação das indústrias de madeiras.
“Os custos da energia penalizam bastante as empresas portuguesas”, reconheceu Siza Vieira, explicando que a situação “é muito complexa”. Em toda a Europa o custo da produção energética está a subir, devido ao preço das licenças de carbono, “que estava em cerca de dez euros há dois anos e agora está em vinte e tal euros”.
O que é que o governo pode fazer? “Trabalhar naquilo que não depende das condições de mercado, mas de decisões administrativas passadas, que são os custos das tarifas de acesso às redes”, área em que, garantiu, o executivo tem estado a trabalhar.
“Tomámos uma decisão importante, mas que não se vai fazer sentir imediatamente, que foi alocar 60% do valor do preço dos leilões das licenças de carbono ao sistema eléctrico”.
Carga fiscal excessiva e greve nos portos, e seus impactos, foram outros dos vários temas levantados no debate. Quanto ao primeiro aspecto, o ministro reconheceu que se devem criar condições para baixar a carga fiscal às empresas, mas também frisou que considera “díficil” que isso aconteça já no próximo ano.
[LER_MAIS] Relativamente aos portos, lembrou que a greve tem por trás um “conflito laboral muito intenso, recorrente”, e que “o funcionamento deste mercado de trabalho portuário precisa de uma atenção importante”. Disse ainda que o porto de Sines vai ser alargado, bem como o terminal de Leixões.
O ministro falou igualmente em alguns riscos para a economia portuguesa, como a subida dos juros. “Não está no cenário uma crise financeira que seque o crédito aos países, mas temos de nos preparar para que as taxas de juro voltem a subir. Para uma economia como a portuguesa, que continua a estar muito endividada, isso é um risco sério”.
Quer no caso das empresas, que devem procurar alternativas de financiamento além do crédito bancário, quer no caso do próprio País, “é agora, que está sol, que temos de construir o telhado para nos abrigarmos” quando vier chuva.
“É por isso que a nossa opção continua a ser reduzir a dívida pública, a ter superavits primários, porque isso nos permite mostrar ao mercado que mesmo que os juros subam não vamos ser considerados como estando em dificuldades de fazer face ao nosso serviço da dívida”.