Depois de dois meses praticamente parada, devido ao estado de emergência, a actividade da Teciplante registou uma “extraordinária recuperação” a partir de Maio.
Mesmo assim, porque as perdas de Março e Abril “foram grandes”, o ano deverá terminar nesta empresa do concelho de Alcobaça com perdas de 20% nas vendas, face a 2019.
E a quebra só não é maior porque houve grandes cortes nos custos, explica Ricardo Silvestre, gerente da Teciplante, que é também vice-presidente da Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais, segundo a qual o sector se encontra ainda “muito fragilizado, com a quebra abrupta do consumo que teve inicio em Março”.
“As empresas foram obrigadas a destruir grande parte da produção por falta de procura, tanto em Portugal como nos mercados de exportação, que já representam 55% do volume de negócios do sector, avaliado em 602 milhões de euros”, aponta a APPPFN.
A associação fez um inquérito sobre os valores de quebra de produção e prejuízos estimados no período entre Março e Junho de 2020.
Com base neste levantamento, efectuado junto dos produtores e de operadores do mercado, como distribuidores de plantas e flores, estima que os prejuízos resultantes da pandemia “devem rondar cerca de 50% do negócio total [produção], o que corresponde a cerca de 180 milhões de euros, tendo que se ter sempre em consideração que a maior época de comercialização de plantas e flores corresponde exactamente ao momento da instalação da pandemia”.
[LER_MAIS] “Dada a importância da Primavera neste negócio – representa entre 50% a 70% das vendas – a maioria das empresas vai ter prejuízo”, estima Ricardo Silvestre. “Os impactos foram diferentes de produtor para produtor. Pode haver casos de empresas que conseguiram recuperar a partir de Maio, mas a generalidade terá perdas grandes”.
Com o desconfinamento, “o sector das plantas ornamentais em vaso retomou a actividade, situação essa que não anula os prejuízos irrecuperáveis sofridos em Março e Abril pela generalidade das empresas”, diz a associação.
Por outro lado, “os produtores de flores continuam com dificuldades em escoar a produção com as restrições que se impõem a celebrações (casamentos, baptizados, funerais), eventos (decorações florais), turismo (decorações de hotéis e restauração) e diminuição do consumo devido ao aumento das dificuldades económicas da população”, frisa a associação. “Aqui as quebras são de 90%”, adianta Ricardo Silvestre.
Na Vidais Plantas, em Caldas da Rainha, em Março e Abril as vendas “baixaram drasticamente”, em Maio e Junho subiram e “superaram” as de igual período de 2019. Mesmo assim, “não chega para cobrir os prejuízos” e o ano deverá terminar com quebras de 10% nas vendas face a 2019, estima Margarida Marques.
“Março, Abril e Maio são os nossos meses-chave. Apostamos tudo na Primavera. Quando esta corre mal o ano complica-se”, explica a produtora. Para já, e depois daquela recuperação, as vendas voltaram a baixar um bocadinho, embora a procura continue superior à de anos anteriores.
“Mas agora nem sempre temos produto para vender, porque é preciso tempo para as plantas crescerem e os fornecedores esgotaram os stocks”, conta.
O sector das flores e plantas ornamentais representa cerca de 7,6% da produção agrícola nacional e assegura mais de cinco mil postos de trabalho directos, aponta a associação. “Tem demonstrado dinamismo na conquista de mercados” e as exportações aumentaram de 78 milhões de euros em 2018 para 96 milhões em 2019, um aumento de 22%”.
Viveiros Quinta da Gândara
“Vendas superaram expectativas”
“Receámos uma quebra grande nas vendas, mas aconteceu o contrário. Superaram as expectativas”. Sara Simões, responsável pelos Viveiros Quinta da Gândara, empresa de Leiria que produz plantas ornamentais e arbustos e vende hortícolas, conta que logo desde o início do estado de emergência a procura foi considerável, e que em alguns produtos chegou mesmo a triplicar. Hortícolas, plantas aromáticas e árvores de fruto, por exemplo, venderam-se mais do que em igual período de 2019. “Quem costumava comprar nos mercados, que estiveram fechados, passou a vir comprar directamente na nossa empresa. Esses clientes ficaram”, conta a responsável, adiantando que o ano não deverá terminar com perdas. “O ano não será tão mau como se previa. Prejuízos devido à Covid-19 não teremos, mas o volume de facturação irá reduzir-se face a 2019”, estima por sua vez Uziel Carvalho, gerente da Germiplanta, Monte Redondo, onde também se notou um aumento da procura de plantas para pequenas hortas. Já na procura por parte dos produtores profissionais, registaram-se quebras, em alguns casos “significativas”.