Começou por ser uma página solidária no Facebook, mas a dinâmica que ganhou, com o aumento de pedidos de ajuda, mas também de doações, acabou por levar o Leiria Solidária das redes sociais para um espaço físico no estádio municipal.
No entanto, em Outubro, o projecto teve de deixar o local e, nas últimas semanas, as doações têm sido feitas na rua, junto às piscinas municipais. Uma solução que, pode, no entanto, ter os dias contados, com o projecto a regressar ao modelo inicial, funcionando apenas em modo digital.
“Não sei por quanto tempo conseguirei fazer as entregas desta forma. Está a tornar-se incomportável”, assume Idalina Gaspar, a principal operacional do Leiria Solidária, projecto que nasceu há oito anos por iniciativa do médico António Cruz, que criou uma página no Facebook, para fazer a ligação entre quem precisa e quem pode ajudar.
Na última terça-feira, a voluntária voltou a deslocar-se para a zona da “piscina” para mais uma sessão de doações, transportando os bens numa carrinha emprestada por uma amiga. Já o tinha feito na semana anterior. E na outra. De cada vez, repete o ritual: carrega o material e depois, no final, volta a carregar o que sobra.
“Por que não desisto? Porque há tanta gente a precisar de ajuda. Os pedidos não páram de cair. E, felizmente, também há doações”, alega Idalina Gaspar, contando que, há três semanas, levou a carrinha “cheia” e ficou “praticamente vazia”.
A voluntária conta que já houve pessoas que disponibilizaram um espaço gratuito, mas longe da cidade. O problema, explica, é que muitos daqueles que recorrem à ajuda do Leiria Solidária não têm transporte próprio.
“É preciso um espaço mais ou menos central, onde as pessoas possam chegar de transporte público ou a pé”, justifica, frisando que, para quem dá, torna-se também mais fácil dispor de um espaço físico onde possa entregar os bens.
Até Outubro, o Leiria Solidária ocupou uma arrecadação no estádio de Leiria, que servia também como espaço de armazenamento do Banco Local de Ajudas Técnicas (BLAT), sendo que, em dias de doações, usava uma zona de átrio, recorda Idalina Gaspar.
Na ocasião, a câmara alegou que precisava do espaço para expandir o BLAT e terá sugerido um outro local no estádio, que, segundo a voluntária, implicava que os beneficiários passassem pela recepção e fizessem o registo de entrada.
“Chegávamos a ter 80 famílias por dia [as doacções eram feitas uma vez por semana]. Não era exequível”, alega, deixando um agradecimento à câmara pelo apoio dado enquanto estiveram no estádio.
Entre Janeiro e Maio, o projecto ainda funcionou com entregas numa garagem, arrendada por Idalina Gaspar, passando depois para a carrinha. “Até quando? Não sei. O mais viável será retomar o modelo inicial, com a troca de ajuda a fazer-se na página do grupo”, admite.