“Em termos de negócio, tem sido em queda livre”. A afirmação é de Joaquim Vitorino, director do Hotel Rainha Santa, em Monte Real, quando questionado sobre os impactos da falta das termas.
Afectadas pelas cheias de 2014, nesse ano ainda abriram alguns meses, depois de obras de recuperação, mas desde então não voltaram a funcionar.
Antes do fecho do balneário termal, este hotel empregava 12 pessoas. Agora dá trabalho a apenas uma, mais outra a meio tempo. “A economia local foi totalmente abaixo. Não há comparação possível”, frisa o hoteleiro.
Antes, o Hotel Rainha Santa abria em Abril e funcionava até meados de Outubro, fazendo coincidir a sua actividade com a época termal. Agora só abre no Verão. “Em Julho e Agosto podemos ser a segunda linha da praia da Vieira, com preços mais económicos”, explica.
Joaquim Vitorino reconhece que é preciso “olhar para frente”, “procurar outros nichos de mercado”, e defende que a abertura da base aérea ao tráfego civil poderia fazer toda a diferença.
Enquanto tal não acontece, e porque a vila “não tem espaços públicos para acolher eventos que possam atrair pessoas”, a hotelaria vai tentando sobreviver como pode. “Já ponderei fechar. Provavelmente é o que vai acontecer mais dia menos dia”.
Quando a legislação mudou, as pensões tiveram de passar a hotel e os empresários foram obrigados a investir para fazer a mudança. “Se soubéssemos que as termas iriam fechar, ninguém teria investido”, diz este hoteleiro.
Opinião semelhante tem Paula Lavadinho, gerente do Hotel Santa Rita, que afirma que “tem sido muito complicado” sobreviver sem as termas. “Eram o coração da vila, o seu meio de subsistência”. O encerramento tem sido “devastador” para a economia local.
Se antes o hotel trabalhava seis meses, agora está de portas abertas apenas dois. “Tivemos de nos adaptar. Mas não tem sido fácil”. O Santa Rita emprega agora uma média de seis pessoas na época alta, quando antes empregava 15.
Para esta hoteleira, o encerramento prolongado das termas vai acabar por “matar a vila”. “Criámos uma associação para dinamizar a vila, mas sem ajuda, nomeadamente da Câmara, é muito difícil”.
“Os prejuízos são imensos”, diz igualmente Luísa Cruz, sócia-gerente do Hotel Afonso. Os clientes das termas garantiam a esta unidade “ocupação certa durante 15 dias”, bem como o serviço de restaurante.
Antes, o hotel funcionava de Abril a Dezembro, agora apenas de Maio a Outubro. “Agosto é o único mês que se mantém razoável, porque já quando as termas funcionavam tínhamos muitos clientes que não eram termalistas, o que se continua a verificar”, explica a empresária.
Com 75 quartos, o hotel implica uma “despesa fixa muito grande”, pelo que os seus responsáveis optam por abrir apenas seis meses. “Estar de portas abertas e não ter clientes é um prejuízo brutal”.
[LER_MAIS] Luísa Cruz afirma que toda a economia local se ressentiu do fecho das termas. “A hotelaria deixou de contratar pessoas além dos seus efectivos, e isso tem impactos”.
“As termas fazem falta. Não há nada que atraia tanta gente à vila como elas atraíam”, afirmam alguns moradores ouvidos, que se mostram admirados como é que os hotéis “conseguem manter-se” de portas abertas.
Josabete Vitorino, dona de uma mercearia e de uma casa de hóspedes, nota bem a diferença. “Antes vinha muita gente, agora não”.
Joaquim Tomé, taxista, tinha sempre “muito trabalho” de Abril a Outubro, mas com o fecho das termas o volume de actividade diminuiu. “Claro que fazem falta”.
Inundações de 2014 “afectaram equilíbrio físico-químico da água termal”
Fonte do Fundo Discovery, que detém a propriedade do balneário termal, garante que tem havido diligências e investimentos para que as termas reabram. “As inundações [de Fevereiro de 2014] afectaram o equilíbrio físico-químico da água termal, nos furos existentes, pelo que com os parâmetros que a água apresenta não é possível a exploração, por força da lei que rege as concessões de exploração de água mineral termal”, explica a empresa ao JORNAL DE LEIRIA.
“Sem dúvida” que existe a intenção de reabrir as termas. “Para isso mesmo se tem trabalhado desde o tempo das inundações”, garante a mesma fonte, lembrando que as “imprescindíveis obras no rio Lis só foram completadas pelo Estado em Dezembro de 2016/Janeiro de 2017”. Desde essa altura, “foram feitos estudos de geofísica como forma de determinar os locais de possível ocorrência de água termal” e feito um novo furo que não deu os resultados esperados quanto à qualidade da água termal.
A mesma fonte da Discovery adianta que em 2016 foi efectuado um pedido de abertura condicionada, mas “foi negado pela tutela tendo em vista a alteração das características físico-químicas da água obtida na exploração dos furos existentes”. Entretanto, “foram realizados diversos longos trabalhos nos furos existentes, com experiências de caudal a diversos níveis, como forma de perceber se era possível uma melhoria das características alteradas, mas tal revelou-se, para já, sem resultados satisfatórios”.
A Discovery diz ainda que existe “um programa de investimento em curso para 2018/2019, já proposto à tutela, com diversas medidas que visam encurtar e viabilizar a abertura, e para o qual as Termas de Monte Real aguardam resposta”.