Se continuasse no mesmo formato, o Sinopse “não passaria de mais um festival de teatro, à semelhança de outros que para aí há”. Quem o diz é o director do Te-Ato, e programador do Sinopse, Miguel Sarreira. “Não conseguiríamos diferenciar-nos nem crescer”.
Daí, a mudança. Em vez de se apresentar concentrado em algumas semanas, o Sinopse passa a estender-se ao longo de vários meses, entre Fevereiro e Dezembro, com um programa que procura “não estar fechado no teatro” e ambiciona atrair espectadores e artistas mais jovens.
Ao mesmo tempo, há um regresso “às origens”, com a companhia de Leiria a reencontrar-se com o “carácter de experimentalismo” dos primeiros anos do festival, que, em 2023, chega à décima edição.
A abertura do X Sinopse – Festival Actor João Moital dá-se hoje, 23 de Fevereiro, através do primeiro episódio de um novo projecto do Te-Ato, o Arquipélago, que se inspira nos mesmos princípios que Miguel Sarreira pretende para a nova fase do Sinopse. “Que procure as novas expressões, aquele pessoal que anda nos TikTok’s da vida a publicar vídeos ou a escrever”, explica. “Vamos ver o que há de valor por aí e mostrar”. Formas de expressão “realmente novas” ou que “não sendo novas se descubram valores”, gente “que tem algo para dizer de novo, que tem uma linguagem nova”.
O arranque do Sinopse (e do Arquipélago, integrado na programação do Sinopse) acontece, então, nesta quinta-feira, na Sala Jaime Salazar Sampaio, em Leiria, numa sessão com início às 21:30 horas, em que vão juntar-se “a escrita inquieta de João Rato” e o “dizer sonoro no saxofone de Duarte Sá”.
O momento terá comentários do professor universitário Carlos André e do maestro Rui Carreira.
No manifesto de lançamento do Arquipélago, divulgado no final de Janeiro, o Te-Ato assinala que o projecto “aspira a reunir ilhas anónimas, oferecer condição para que cada uma destas entidades artísticas se encontre com outras tantas e reencontradas entre si adquiram voz própria e visibilidade”, enquanto, por outro lado, procura ser “um território mental da diversidade, onde cada um possa encontrar o seu sentido numa vida útil, na realização pessoal e na expressão criativa”.
Habitualmente organizado nos meses de Abril e Maio, este ano o Sinopse começa mais cedo e acaba mais tarde. Miguel Sarreira anuncia actividades em quase todos os meses até Dezembro, sem sobreposição com iniciativas de outros grupos de teatro no concelho, como é o caso dos festivais Acaso (uma organização d’O Nariz) e Novos Ventos (produzido pelo Leirena).
Na prática, trata-se de “transformar o Sinopse numa chancela”, um abrigo para eventos com perfil idêntico que vão realizar-se sempre “em espaços mais pequenos ou inusitados”.
Além do projecto Arquipélago, em nove sessões que constituem a participação do Te-Ato na décima edição do Festival Actor João Moital, a programação do Sinopse vai acolher produções de terceiros. “Estamos a tentar que nos apresentem algo neste espírito que queremos para o Sinopse”, refere Miguel Sarreira, que desafia as companhias da região, “mais consagradas” ou “menos consagradas”, e também “artistas individuais” ou mesmo “escolas” e “estudantes”, a “mostrarem o que querem mostrar”.
Numa conversa com o JORNAL DE LEIRIA no início do ano, sobre o Arquipélago, o director artístico do Te-Ato, João Lázaro, explicou que o projecto ambiciona constituir “um movimento contra-natura” para defender “a arte que brota das pessoas” e “é livre”. Pretende ser “um palco aberto, uma coisa orgânica” e cumprir “uma função social”. Por outro lado, após 46 anos de actividade, o Te-Ato abre a Sala Jaime Salazar Sampaio a uma nova prática: a divulgação.