Neste mundo, eu sou uma felizarda e por entre tudo o que me faz sentir assim está, sem dúvida, a possibilidade de, enquanto pessoa, eu poder continuar a minha construção usando o que todos os outros entes, racionais ou não, naturalmente me ensinam!
Sou, por isso, aluna de todos sejam eles os que, intencionalmente, com as suas obras carregadas de significados, assumem que têm algo para me ensinar ou uma erva de insignificante tamanho, uma qualquer pedra que me desafia a conhecê-la melhor ou mesmo uma das minhas galinhas que, tantas vezes, já foi minha professora, sem que de tal coisa algum dia possa vir a suspeitar.
A este propósito morreu-me a gata Sissi e eu chorá-la-ei, enquanto não a tornar a encontrar, tanto foi o amor com que sempre me tratou e o valor do muito que com ela aprendi. Ao chamá-la pelo seu nome, Sissi, senti-me, muitas vezes, transportada para um momento, muito lá atrás, em que vi a minha mãe com um sorriso a arranjar-se para ir ao cinema ver mais um filme de uma trilogia sobre a imperatriz Sissi.
Como se me trazer essa lembrança já não me bastasse após ser castrada, a gata Sissi deu de mamar a dois gatinhos que apareceram por aqui e protegeu-os até ao fim da sua vida, como eu pensava que só uma mãe humana seria capaz de fazer. Sem saber, ela veio reforçar a minha crença de que é a qualidade do instinto maternal que as mulheres possuem e não o laço biológico que faz de alguém vir a ser uma boa ou má mãe para uma criança.
E o que dizer do momento de pânico que senti quando ela partiu! Deformada como, às vezes, ainda me sinto pela catequese católica, temi que por neste mundo ser, não uma pessoa, mas um animal, a morte da Sissi fosse fatalmente o seu fim. Felizmente, em segundos, fui inundada pelo meu querido cristianismo franciscano e apesar de triste a minha serenidade voltou.
Confesso, contudo, que aquela sensação de absoluto fim de uma vida que tive perante a partida da gata Sissi me deixou a pensar no sofrimento de tantas pessoas que no mundo acreditam ser a morte esse tipo de fim! Pela minha parte luto todos os dias por continuar a acreditar na morte “como o fim para um começo sem fim”.
Se assim não for qual o sentido das vidas interrompidas pelo genocídio em Gaza ou pelo Hamas em Israel, qual o sentido de na minha vida eu continuar a aprender com gentes, ervas ou galinhas? Qual o sentido da vida da Sissi que, na minha vida, me fez tanto bem!
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990