Passada uma semana da greve às horas extraordinárias dos técnicos de emergência pré-hospitalar do Instituto Nacional de Emergência Médica, as dificuldades em ligar para o 112 não desapareceram, tal como já existiam antes da paragem dos técnicos. A falta de socorro atempado provocou 11 mortes durante a greve, três das quais na nossa região: duas em Pombal e uma em Ansião.
José Antunes confessa que os problemas do INEM mantêm-se “mais ou menos iguais e não surgiram apenas com a greve”. “Já há algum tempo que existem constrangimentos na linha e temos dificuldade em contactar o CODU [Centro de Orientação de Doentes Urgentes]. Há falta de recursos humanos no INEM”, denuncia o comandante dos Bombeiros Voluntários de Ansião, ao admitir que essas falhas “acontecem com alguma frequência”.
“Quando nos ligam directamente, temos de fazer a passagem para os CODU, para serem eles a fazer a própria triagem. Estamos, por vezes, cerca de 20, 15 minutos, à espera que se faça a ligação”, apontou. Esta denúncia é confirmada pelo Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, que referiu à Lusa que “os constrangimentos já se verificavam mesmo antes da greve”.
Segundo explica José Antunes, todos os pedidos de primeiro socorro passam pela linha 112, situação que nem sempre foi assim. Por isso, defende que se volte a permitir chamadas directas para os bombeiros para tornar o socorro mais célere. “Temos pessoas com mais formação e é preciso que todos os que compõem o Sistema Integrado de Emergência Médica se sentem e discutam a melhoria do serviço, porque as pessoas têm direito a ser bem socorridas”, salienta, ao justificar que os operadores “não atendem porque não têm capacidade de resposta”.
O comandante admite que “certamente há casos que não justificam o socorro do INEM, mas as pessoas não têm onde recorrer para obter resposta na saúde”, afirma, ao exemplificar com o concelho de Ansião, onde é cada vez mais complicado obter uma consulta no centro de saúde devido à falta de profissionais de saúde.
“Não há médicos, os hospitais estão muitas vezes de porta fechada, as pessoas recorrem ao que podem”, resigna-se.
Sem validação não há pagamento
Se os bombeiros saírem para prestar socorro antes da validação do CODU, o serviço pode não lhes ser pago. Foi o que sucedeu durante a greve. Assim que o vizinho de um idoso chegou ao quartel a pedir ajuda, porque não conseguia ligação para o INEM, uma das equipas da corporação “deslocou-se imediatamente ao local”.
Encontraram a vítima, de 95 anos, em paragem cardio-respiratória. e “verificaram que havia um telefone que estava com uma chamada em curso, com 28 minutos, para tentarem obter ligação com a linha 112”.
“O que quero é socorrer as pessoas que precisam de ajuda, mesmo que tenha de sair sem validação do CODU”, garante. O óbito viria a ser confirmado horas depois.
Os Bombeiros Voluntários de Pombal também foram chamados, na segunda-feira, dia 4, para duas ocorrências que não terão tido resposta do INEM e em que acabaram por morrer dois homens, de 53 e 90 anos.
“Em ambas as chamadas os contactantes ligaram para a central dos Bombeiros de Pombal a solicitar ajuda, indicando que já teriam ligado para o 112 e que não teriam sido atendidos”, disse à Lusa João Carlos, 2.º comandante.
Nas duas situações fizeram sair o meio de socorro e prestaram auxílio às vítimas que se encontravam em paragem cardio-respiratória. João Carlos também concorda que qualquer pedido de ajuda dirigido à corporação “será sempre respondido no imediato”.
“Em caso de emergência, as pessoas devem ligar 112 e no caso da emergência médica a chamada será encaminhada para os CODU. No entanto, os bombeiros têm instituído que, para que não se atrase o socorro à população, a norma seja sair no imediato e depois validar”, informou.