Aquele dia era importante. Mesmo muito importante. E Diana Silva, que costuma reagir bem à pressão competitiva, sentia-se “em baixo”. Também não era para menos.
Pela primeira vez, em 11 anos de ginasta, estava em prova sem a companhia da amiga, parceira diária de treino, com quem conquistou quatro títulos nacionais de trampolim sincronizado e participou em três Campeonatos do Mundo por Idades.
É que, quatro dias antes, Rita Vieira partiu o braço esquerdo numa queda do trampolim e não pôde marcar presença ali, na segunda prova qualificativa para o Campeonato da Europa, que decorreu no passado domingo em Santo Estevão, Benavente.
“Faltava-me um suporte”, explica Diana, de 14 anos. “Foi um dia difícil. Ela apoia-me sempre e eu apoio-a e senti-me muito sozinha.” O treinador, atento, percebeu que tinha de fazer qualquer coisa para alterar o estado da sua pupila. Ela estava a minutos de se qualificar para o Europeu, mas não estava com o ânimo certo para saltar.
Vai daí, Rui Branco liga para a Rita, também ela com 14 anos. Pede-lhe para dar uma força à colega, para ajudá-la a conseguir uma prestação que lhe garanta a qualificação para Gotemburgo. “Telefonou-me a dizer que a Diana estava preocupada. Falei com ela, desejei boa sorte e ela desejou-me as melhoras.”
Rita Vieira sabe que, se tivesse sido ao contrário, também teria sofrido com a ausência. “Sentiu a minha falta, é normal. Partilhamos tudo. Tudo o que faço, ela vem atrás de mim e ao contrário também é verdade. Sem ela não é a mesma coisa”, justifica.
Na verdade, o telefonema fez efeito. A prova “não foi perfeita”, mas foi suficientemente boa para garantir a qualificação de Diana Silva para o Europeu de juniores. “Mudou o meu espírito. Senti que, apesar de estar longe, a Rita estava comigo.”
Mas o domingo não deixou de ser “agridoce” para a comitiva do Trampolins Clube de Leiria. Se é verdade que foi garantida uma qualificação, também é que podiam ter sido duas, não fosse a maldita lesão. Ainda por cima, “estava muito bem preparada, a saltar muito bem, focada e confiante”. São coisas que podem “sempre” acontecer.
[LER_MAIS]O momento, ainda assim, é histórico. Pela primeira vez, o emblema apura uma ginasta em trampolim individual, que é modalidade olímpica, para o Campeonato da Europa. Em 2018, Maria Carvalho foi chamada para representar Portugal nesta competição e até foi vice-campeã europeia por equipas, mas em duplo mini-trampolim.
“Não esperava ir tão cedo, estava a competir com miúdas de 16 anos, mais velhas do que eu”, admite Diana. “Aos 14 anos ir a um Campeonato da Europa de juniores tem que se lhe diga. Teve de cumprir mínimos e lutou no País com atletas de 15 e 16 anos”, prossegue Rui Branco, que acompanha ambas as ginastas desde que voaram pela primeira vez, aos três anos.
“Desde cedo, a Diana demonstrou talento natural. Tem um cariz muito próprio, tem de sentir que as coisas estão muito seguras, mas em competição transforma-se. O treinador pode estar tranquilo quando nos treinos as coisas não estão bem, porque na hora h parece que liga o botão e muda de registo. Por outro lado, teve a galvanização de treinar desde o princípio com a Rita, uma atleta da mesma idade que também tem talento e com um ritmo de trabalho fenomenal. Foi a mistura ideal. As duas complementam-se e puxam uma a outra.” Quiçá até aos Jogos Olímpicos, lá para 2028.