Com sede no Óbidos Parque, a startup Stonify quer aumentar os ganhos de eficiência das empresas do sector da pedra, através de soluções tecnológicas, que permitem evitar a deslocação dos clientes às fábricas, para escolherem a matéria-prima. A solução passa pela digitalização das chapas, que possibilita aos compradores verem os mais ínfimos pormenores em três dimensões, através da captação de imagens em alta resolução.
João Vital, CEO da Stonify e mestre em Engenharia Mecânica, garante que a digitalização acrescenta valor às empresas, ao permitir chegar a novos mercados de uma forma mais eficiente e com menos custos, e ao controlar os processos de uma forma mais optimizada, através de uma plataforma digital.
“Qualquer compra obriga a uma deslocação para ver o material, o que implica fazer movimentações que representam riscos de segurança e perda de tempo”, acrescenta. Além de a solução tecnológica proposta pela Stonify possibilitar a digitalização da superfície da chapa em pedra em 2D, a startup desenvolveu uma ferramenta que permite passar depois para ambiente 3D e criar um catálogo de imagens tridimensionais, que, segundo o CEO, “pode ser visualizado com luz e usada para o planeamento e gestão de uma obra”.
Propõe, assim, às empresas digitalizarem todo o stock de pedra natural, de uma forma “consistente e contínua”, tendo em conta que “não há dois produtos iguais”. O CEO da Stonify não esconde que têm sentido alguma “resistência” da parte de potenciais clientes, que justifica com o facto de estarem a introduzir uma “tecnologia com uma forte inovação”.
“Não é por cepticismo, mas porque o processo de digitalização é demorado, e não têm estrutura”, acrescenta. “Existe um caminho grande a percorrer e a explorar”, assume.
Apesar disso, diz que, com a entrada das novas gerações nas empresas, “as mentalidades começam a alterar um bocadinho”. “Há uns tempos, as construtoras de máquinas de transformação fizeram a tentativa de introduzir tecnologia deste tipo, mas não investiram em qualidade”, refere João Vital, de 28 anos. “Era usada como chamariz, mas não foi dada a devida atenção, o que desmotivou os clientes a utilizá-la e a adoptá-la”, explica.
“O nosso trabalho tem sido renovar essa confiança e o feedback tem sido positivo.”
Documentar conhecimento
Consciente de que é difícil atrair pessoas para trabalhar no sector da pedra, por ser considerado “duro e sujo”, o CEO da Stonify propõe também às empresas documentar os conhecimentos das pessoas mais experientes, que fazem a avaliação da qualidade das matérias-primas. “Queremos ajudar os nossos clientes a incorporar essa informação numa base de dados, para ser usada para dar formação e facilitar o dia-a-dia das operações nas fábricas”, explica.
Apesar de ter desenvolvido o primeiro projecto em 2021, a Stonify só foi constituída formalmente no ano passado. Desde então, disponibiliza soluções tecnológicas para nove clientes com pedreiras, entre Rio Maior e Porto de Mós (Região Centro), em Pêro Pinheiro (Sintra), que transformam a pedra proveniente de pedreiras que possuem no Alentejo ou no Centro, e em Estremoz, Vila Viçosa e Borba (Alentejo). Centrada na digitalização de processos e na captação de imagens de alta resolução dos produtos em pedra natural, a startup tem na sua génese o desenvolvimento de projectos de investigação e desenvolvimento (I&D).
“Estamos sempre prontos para discutir com as empresas novas soluções”, assegura o CEO. No entanto, esclarece que, para já, não está prevista a entrada noutros sectores de actividade. “O que nos importa é focar a atenção e a energia no que nos poderá trazer mais valor.” João Vital está convicto de que as soluções tecnológicas propostas pela Stonify, através da digitalização dos processos, são “uma forma de o sector prosperar” dentro de um ecossistema digital. Nesse sentido, defende que os procedimentos deviam ser standardizados, para evitar ineficiências.
“Há um medo intrínseco da partilha de informação”, identifica. “Muitos sectores passaram por isso e, neste momento, prosperam num ambiente muito mais aberto”, garante. Como exemplo, refere a venda de roupa online. Na perspectiva dos clientes, o CEO da Stonify não tem dúvidas de que optarão por fechar negócio com os fornecedores de pedra que lhes forneçam imagens em alta resolução da matéria-prima em formato tridimensional, em vez de perderem tempo e terem custos adicionais em viagens para irem ver a pedra às fábricas. “Isto vai gerar um efeito bola de neve. Havendo uns a adoptar e a terem melhores resultados, quem não os seguir fica para trás”, sublinha.
“Queremos que essa mudança seja percebida gradualmente.”
Inteligência Artificial
“Estamos a desenvolver ferramentas com Inteligência Artificial, para análise de dados, com o Instituto Superior Técnico, o Instituto Politécnico de Santarém e a Escola Náutica”, revela o João Vital.
“Gostamos de estar próximo de centros de investigação e desenvolvimento para sermos uma mais-valia para os nossos clientes”, justifica.
A startup tecnológica resulta da fusão da Frontwave, especializada no sector da pedra, com a Sevways, especializada em software. Antes, o CEO da Stonify confessa que “esteve um bocadinho adormecida”, enquanto as empresas mãe [Frontwave e Sevways] suportavam as operações e procurava investidores. “Decidiu-se criar a Stonify para aglomerar esta operação e desenvolver o negócio, por ter uma visão inovadora”, explica. “Encontrámos uma sinergia comum.”
A equipa da Stonify é constituída por João Vital, Rui Almeida, Adriano Coelho, Pedro Teodoro e Guilherme Sá, todos com formação superior em Engenharia Mecânica, de Materiais e Informática, pelo Instituto Superior Técnico e pelo Instituto Politécnico de Santarém. Com o objectivo de acelerar o desenvolvimento e robustez das soluções já existentes, aumentar as vendas e continuar a responder às principais necessidades e desafios do sector, a startup apresentou uma candidatura à INNOV-ID e vai contar com o investimento da sociedade de capital de risco Portugal Ventures.