As Euribor começaram a subir mais significativamente desde 4 de Fevereiro do ano passado, depois de o Banco Central Europeu (BCE) ter admitido que poderia subir as taxas de juro directoras, devido ao aumento da inflação na Zona Euro e a tendência foi reforçada com o início da invasão da Ucrânia pela Rússia.
Na semana passada, dia 16, as taxas subiram a três e a 12 meses para um novo máximo desde Janeiro de 2009, fixando- se em 2,334% e 3,332%, respectivamente. E, de acordo com a Lusa, apesar de a Euribor a seis meses, a taxa mais utilizada em Portugal nos créditos à habitação, ter descido ligeiramente (menos 0,033 pontos), tinha alcançado dias antes, a 13 de Janeiro, os 2,876%, que foi também o seu máximo desde Janeiro de 2009.
Apesar das subidas, os mediadores imobiliários ouvidos pelo nosso jornal acreditam que as famílias vão continuar a comprar casa e que a aquisição continua, ainda assim, a sair mais em conta do que o arrendamento.
Contudo, observam, dado o aumento das taxas de juro e face à redução do poder de compra, obter crédito junto da banca vai ser mais difícil e não restará alternativa à maioria dos portugueses se não ajustar as suas escolhas, optando por imóveis mais baratos do que aqueles que, até há pouco tempo, ainda poderiam comprar.
“Já se sente que [LER_MAIS]algumas pessoas que estavam interessadas em comprar não concretizam a compra da casa. Deixaram de ter capacidade económica para pagar uma prestação que subiu 40% ou 50% face a Março de 2022”, constata João Cordeiro, mediador imobiliário da Imosonho.
No entanto, “desde o início da Covid-19, as rendas duplicaram. Por isso, arrendar continua a não ser mais barato do que comprar”, realça o mediador, salientando que “há apartamentos T1 em Leiria a serem colocados no mercado de arrendamento por 800 euros por mês”.
“O que poderá acontecer é um alinhamento por baixo em relação ao patamar que era habitual. Um casal com um rendimento mensal de dois mil euros talvez deixe de poder comprar uma moradia individual e tenha de comprar apartamento”, exemplifica.
“Não é que os juros estejam muito altos. Continuamos a ter hoje juros abaixo da média do que se praticou ao longo de 40 anos de democracia. A questão é que durante muito tempo estivemos a juros negativos. E isso sim, foi anormal”, repara João Cordeiro.
“No último trimestre de 2022, registamos uma quebra da procura de 30% a 40%. Mas é preciso realçar também que durante o ano tivemos cinco mil clientes à procura de casa, estivemos completamente em alta e teria de haver uma quebra”, refere Rui Cardeira, responsável pela Century 21- Cardeira e Costa.
Ainda assim, no caso desta agência, os chamados índices de produção, de propostas, de intenções de compra não diminuíram, salienta o mediador. Mas há mudanças no mercado, reconhece.
“É mais difícil obter aprovação de crédito junto da banca, porque as taxas de esforço subiram. As pessoas ganham o mesmo, mas os preços aumentam, os juros aumentam. Quem antes comprava uma casa de 250 mil euros, talvez só possa tentar comprar uma de 170 ou 180 mil euros”, exemplifica.
Quanto aos estrangeiros e aos investidores, esses continuam a comprar e por valores elevados, acrescenta.
Grande parte dos seus clientes, “sobretudo os que contrataram financiamento com base na Euribor a 12 meses, sentirão a partir de agora o impacto destas subidas, que passaram de uma Euribor negativa para uma Euribor que ronda os 3%. Quem tem contratos assentes em taxas a três e seis meses já foi sentindo esse aumento”, nota a responsável.
De forma a minimizar o impacto da subida da prestação mensal, existem algumas medidas que podem ser tomadas, aponta Olinda Mangas. Entre as quais: “a negociação do spread, o alargamento do prazo, pedir um período de carência de capital, negociar o diferimento de capital, optar por transferir o crédito para outra instituição que apresente melhores condições e fixar a taxa de juro”.
Esta última medida, salienta, “adequa-se a quem valoriza a segurança, pois garante que o valor a pagar é igual em todos os meses, independentemente da oscilação da Euribor”. Contudo, a TAN é mais elevada, refere a especialista.
Quanto ao período oportuno para negociar o crédito, “é o mês da revisão da prestação em que ocorre a actualização da Euribor contratada”.