Se queremos construir um território que fixe a população, que seja de futuro, que seja seguro, que produza riqueza, temos de plantar floresta autóctone, usar agricultura, com um plano por regiões, que revele o potencial de cada território, criar uma estrutura ecológica dentro desse plano e propor aos proprietários várias hipóteses de ocupação sustentável do território.
João Marques da Cruz é crítico da forma como o ser humano, ao longo do século XX, com a industrialização, mergulhou na ilusão de que não precisa da natureza.
“Acredita-se que a alimentação provém da América do Sul ou de outro sítio qualquer e que a floresta pode ser uma monocultura contínua, gerando-se, nas pessoas, um desprezo pelo território, que deu origem ao êxodo rural para as cidades. O que se passou no ano passado não foi pontual, tem acontecido todos os anos, mas foi mais visível devido à gravidade."
A modelação do sistema natural tem de ser feita com conhecimento e inteligência, coisa que o arquitecto considera que tem faltado. "Temos monoculturas florestais contínuas. O eucalipto é uma espécie exótica, que se adaptou bem, mas baixa a produtividade do solo, diminui a biodiversidade e a água no solo e aumenta a erosão, para não falar do agudizar do problema dos incêndios."
A solução, explica, passa por uma floresta, sem monocultura, com espécies compatíveis com o clima e condições de solos, com equilíbrio na ocupação de solo com agricultura e floresta. "Para as empresas da fileira do papel e para os proprietários, isto é difícil de aceitar. Por isso, é preciso proporcionar a possibilidade de os proprietários terem opções de um ponto de vista económico."
Em 1850 não existia um eucalipto em Portugal, e, em 1940, o Estado Novo de Salazar apadrinhou o pinhal. Antes das grandes campanhas de plantação de pinhal e de acordo com um estudo florestal do final dos anos 30, a maioria do coberto vegetal era de quercus.
“Não havia monocultura de árvores, à excepção dos pinhais de Leiria e do Interior”. "O Pinhal de [LER_MAIS] Leiria é uma monocultura mas foi feito com um modelo de gestão extraordinário… Em momentos de má gestão, houve incêndios, em 1825, 1859 ou 1915."
Para alterar o cenário e preciso perceber o que está errado. A plantação de eucalipto é subsidiada em Portugal e há que criar condições para os produtores optarem por outras culturas.
“Os carvalhos são mais rentáveis, porém, demoram 80 anos a estar prontos, mas com um sistema de talhões como o do pinhal de Leiria seria possível atrair mais produtores”, acredita João Marques da Cruz.
No período de carência, o Estado poderia apoiar os produtores florestais, com um fundo de futuros. “Estamos há um ano a discutir helicópteros e bombeiros e não se vai encontrar uma solução, porque o caminho está cheio de vícios e há uma fileira de negócio que é o incêndio.”