Todos os minutos contam e a tristeza de uns é a felicidade de outros. No transplante de órgãos, os militares da GNR são uma das peças do puzzle de um processo que ajuda a salvar vidas.
São os anjos da guarda do órgão recolhido que tem de chegar o mais rápido possível ao destino para garantir a sua viabilidade e contribuir para dar maior qualidade e até anos de vida a alguém.
Numa tarde de sábado, o telefone tocou na GNR. No Hospital de Santo André, em Leiria, estava um órgão que necessitava de transporte para Coimbra.
Os dois militares do Destacamento de Leiria que se encontravam em serviço largaram o que estavam a fazer e dirigiram-se para o hospital, onde a caixa hermética os esperava. O cronómetro iniciou a contagem decrescente. Na posse da caixa preciosa, a dupla de militares viajou em marcha de urgência até ao hospital de Coimbra.
No transporte de órgãos, o Comando-Geral da GNR é contactado directamente pelo Gabinete Coordenador de Colheita Órgãos e Transplante (GCCOT) do Centro Hospital Universitário de Coimbra (CHUC), no caso da região de Leiria, para deslocar os meios necessários, explica Odete Gomes, coordenadora Hospitalar de Doação da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria.
Assim que a requisição chega ao Centro Integrado Nacional de Gestão Operacional, o destacamento de Trânsito mais próximo e com disponibilidade imediata arranca para o hospital, onde lhe é entregue a mala térmica com o órgão.
Têm-se apenas um objectivo: cumprir a missão. Uma missão que o comandante do Destacamento de Trânsito de Leiria, Ricardo Vieira, explica ser uma das que mais orgulha os militares.
“Esta é uma das missões que mais engrandece o militar do serviço de trânsito da Guarda Nacional Republicana”, revela.
O capitão Ricardo Vieira sublinha que se trata de uma missão que visa a “missão mais nobre” de salvar uma vida. “Não é a missão de socorrer de imediato alguém, como sucede no nosso serviço habitual, que tem sempre a finalidade de salvar ou evitar que as vidas se esvaiam na estrada”, reforça.
Os militares desconhecem o que transportam e a identidade a quem se destina. Além dos órgãos, podem também transportar amostras biológicas para teste de compatibilidade.
“É normal haver dois transportes de órgãos. Ou seja, primeiro as amostras e depois o órgão”, adianta Ricardo Vieira. “O transporte visa os dois princípios básicos: chegar ao destino no menor tempo possível e em segurança. É utilizado um veículo de patrulhamento, que viaja em modo de emergência”, realça o comandante.
“Não queremos bater recordes nem causar transtornos aos outros utilizadores da via e assumimos a segurança como prioridade, mas há que tentar chegar o mais rápido possível”, garante ainda Ricardo Vieira.
Esta é uma missão da GNR desde 1994, através da sua valência de trânsito. Em 2023, os militares realizaram 16 transportes, quase o dobro do efectuado em 2022 (9). Já em 2021, a GNR esteve envolvida em 15 missões.
Fígado e rins são os principais órgãos
No Hospital de Santo André, em Leiria, a recolha de órgãos é realizada apenas em pessoas em morte cerebral. Odete Gomes explica que é a equipa de transplante que decide, “consultando a lista de espera, qual o doente mais indicado para receber o órgão, seguindo critérios clínicos, como a compatibilidade do grupo sanguíneo, características antropométricas e gravidade do doente”.
“A qualidade e funcionalidade dos órgãos são avaliados por exames laboratoriais e imagiológicos, que determinam a possibilidade de serem usados para transplantação.
É obrigatório assegurar que o dador não tenha nenhuma doença ou condição transmissível pelos órgãos ou tecidos ao receptor”, precisa a responsável.
Os órgãos que podem ser doados após a morte são rins, o fígado, coração, pâncreas e pulmões, sendo que no hospital de Leiria, os órgãos mais colhidos são fígado e rins.
“A doação de órgãos e tecidos é um procedimento médico que permite salvar e transformar vidas, em que os órgãos ou tecidos são retirados de um dador e transplantados numa pessoa doente ou em risco de vida, devido à falência de um ou mais órgãos”, explica Odete Gomes.
De acordo com a legislação portuguesa, todos os cidadãos são considerados potenciais dadores, desde que não expressem oposição à dádiva no Registo Nacional de Não Dadores.