Já integrou a equipa de Edvard e May-Britt Moser, distinguidos em 2014 com o Prémio Nobel da Medicina. Hoje, Paulo Girão, natural de Caldas da Rainha, trabalha como técnico de investigação no Kavli Institute of Systems Neuroscience, na Universidade de Trodheim, Noruega, liderado pela casal Moser.
A par do seu percurso profissional, este antigo campeão nacional dos 100 metros do desporto escolar, tem participado em provas de esqui, contabilizando já 20 maratonas (com 40 ou mais quilómetros).
A aventura de Paulo Girão por terras da Escandinávia começou em 2001, quando, como aluno de Erasmus, desenvolveu um projecto de investigação na área da neurotoxicidade na Universidade de Copenhaga (Dinamarca).
Foi então que estabeleceu os primeiros contactos com Edvard e May-Britt Moser, professores da Universidade de Trondheim, com vista a fazer o seu doutoramento na instituição, o que viria a acontecer, contando com a supervisão daqueles cientistas.
“Entre 2002 e 2006 tinha uma ligação directa e quase diária com eles”, conta o técnico, que, desde 2009, integra um grupo de investigação, cujo foco é a anatomia e fisiologia do sistema nervoso central.
No Kavli Institute of Systems Neuroscience, Paulo Girão trabalha como técnico de laboratório, especializado em microscopia óptica e confocal e desenvolvimento de software para análise de dados. A sua função passa por auxiliar no planeamento, execução e optimização de projectos de investigação.
É, explica, responsável por “manter os instrumentos em boas condições, ensinar ou aconselhar possíveis estudantes ou investigadores a utilizá-los” e manter-se “actualizado em relação aos desenvolvimentos técnicos que ocorrem neste campo”. “Também sou responsável por assistência em equipamento de electrofisiologia in vitro.”
Antigo velocista amante de esqui
A par do percurso profissional – que incluiu a docência na Universidade Técnica de Trondheim, onde deu aulas de Psicologia Biológica e Psicologia Cognitiva e uma curta experiência como guia turístico e intérprete de portuguêsnorueguês –, Paulo Girão tem competido em corridas de fundo de esqui.
“Fui o primeiro português a participar e a concluir a Birkebeinerrennet e a Vasalöppet [duas importantes corridas de esqui, a primeira na Noruega, com 54 quilómetros, e a segunda na Suécia, com 91 km]”, conta o investigador, que nos seus tempos de juventude praticou atletismo.
Chegou a ser campeão nacional de 100 metros, no desporto escolar, e, em representação do Bairro dos Anjos (clube de Leiria), conquistou vários títulos distritais de juniores e, neste mesmo escalão, um segundo lugar no campeonato nacional na estafeta de 4×400 metros.
No pico da actividade de esquiador, [LER_MAIS] Paulo Girão chegou a fazer três a quatro maratonas por época – de Janeiro a Março -, mas, desde que o filho nasceu, em 2013, a competição tem ficado um pouco de lado. “Uma maratona de esqui requer muitos meses de treino, com três a seis sessões por semana. Presentemente, só esquio uma a duas vezes”, conta o atleta, que espera voltar às corridas.
Regressar ao País é que não está nos seus horizontes. “Gosto muito de ir a Portugal visitar a família e amigos e explorar as paisagens e a cultura do meu País. (…) Mas o sistema social português ainda está relativamente pouco desenvolvido em relação à maioria dos países da Europa Central e do norte e isso não torna o retorno suficientemente apelativo, especialmente desde o nascimento do meu filho.”
A título de exemplo, refere a educação que, nos países escandinavos, é “praticamente gratuita”, desde o jardim de infância até à Universidade. “É uma questão de prioridade política. O governo e os cidadãos compreenderam e compreendem a necessidade da educação numa sociedade moderna e decidiram investir nesse campo.
A Noruega é talvez o único país do mundo em que os cidadãos pagam os seus impostos com orgulho de o fazerem, porque sabem que o nível de corrupção é baixo e que esse dinheiro é investido sabiamente.”