A explicação repete-se vezes sem conta. Um perfusionista é responsável por operar as máquinas que oxigenam os pulmões e o coração quando estes deixam de funcionar. É isto que faz Bruno Claro desde que se formou em Cardiopneumologia.
Começou no prestigiado Serviço de Cirurgia Cadiotorácica dos Hospitais da Universidade de Coimbra, então liderado por Manuel Antunes, e há dez anos rumou a Londres, onde hoje chefia uma equipa de 24 perfusionistas no St. Bartholomew’s Hospital, o “maior” centro cardiovascular da Europa e o hospital mais antigo de Inglaterra. Tem também participado como voluntário em algumas missões humanitárias.
Natural de Pombal, Bruno Claro, 39 anos, conta que “sempre quis ter uma experiência no estrangeiro”, uma vontade que ganhou força com a crise que o País atravessou nos primeiros anos da última década. Apesar do muito que aprendeu no serviço do professor Manuel Antunes, onde “a exigência” lhe permitiu ganhar “muita estaleca”, a congelação de carreiras não lhe dava grandes perspectivas de futuro e de progressão profissional. Mandou currículos para “todas” as sociedades de perfusão europeias e recebeu respostas da Suíça, Noruega e Inglaterra.
Seguindo o conselho que lhe deram do outro lado do Canal da Mancha, foi visitar o serviço do Kings College Hospital, em Londres, “ainda sem saber se estava pronto” para dar o salto. “Depois de umas conversas pelos corredores do hospital, o meu futuro chefe apercebeu-se da minha experiência e da mais-valia que podia representar para o serviço e disse-me que estava contratado. De repente, já estava com um pé em Londres e o salto foi mais fácil”, recorda.
No início de 2011, Bruno Claro começava, então, a trabalhar no Kings College como perfucionista. “Não imagina a quantidade de vezes que tenho que explicar o que faço. Basicamente trabalho com máquinas de suporte extra-corporal”, começa por esclarecer.
E continua: “Imagine-se uma cirurgia ao coração. Como é que o cirurgião consegue abrir o coração com este a bater? É aqui que entra o perfusionista. Toda a circulação de sangue do paciente, em vez de ir para o coração, é desviada para uma máquina de circulação extra-corporal”.
Destaque
Natural de Pombal, Bruno Claro, de
39 anos, licenciou-se em
Cardiopneumologia. Começou a
carreira nos Hospitais da
Universidade de Coimbra,
integrado na equipa de Manuel
Antunes, o prestigiado cirurgião
cardiotorácico, natural de Leiria e
já reformado. Em 2011, mudou-se
para Inglaterra.
O perfusionista opera essa maquina, “oxigenando e bombeando todo o sangue de volta para o paciente,[LER_MAIS] enquanto o coração e os pulmões deixam de funcionar”, controlando “todos os dados vitais do paciente”. “É uma profissão exigente e com bastante adrenalina onde é preciso saber manter a calma”, assume Bruno Claro.
Inicialmente, a “aventura” em Londres era para durar dois anos. Entretanto, surgiram propostas de outros hospitais e o técnico foi ficando, não pensando, para já, regressar a Portugal. Em 2013, juntou-se à equipa do Royal Brompton Hospital, que é um dos centros britânicos de ECMO (Oxigenação por Membrana Extracorporal), uma técnica de suporte vital extra-corporal que tem sido usada em doentes Covid-19 em situação muito grave.
Com esta mudança, Bruno Claro pôde também voltar a trabalhar em cirurgia pediátrica, de que “tinha saudades.” Em 2017, uma nova mudança, agora para St. Bartholomew’s Hospital, o “maior” centro cardiovascular da Europa, onde lidera uma equipa de 24 perfusionistas.
“Trabalhar num centro onde, por dia, se realizam 16 operações ao coração exige bastante coordenação”, frisa Bruno Claro, que é também responsável de formação de toda a equipa, realizando com regularidade sessões de simulação.
Missão marcante na Palestina
O saber que “há tantos locais no mundo onde há crianças que não têm acesso a cirurgia cardíaca” levou Bruno Claro a inscrever-se como voluntário em várias organizações, tendo já participado em missões na Índia, na Palestina e em Moçambique.
“É das melhores experiências que já tive e gostava de conseguir disponibilizar mais tempo a esta área”, afirma. Diz que as missões “foram todas bastante intensas, emotivas e com enorme necessidade de adaptação e improvisação com o que há disponível”, mas confessa que a mais marcante foi, “sem dúvida”, a da Palestina, por ter sido a primeira e pelas “condições e situação” que encontrou na faixa de Gaza. “É um pedaço de terra bloqueado do mundo e para onde se tende a fechar os olhos ou se faz a presunção errada de serem terroristas” e onde “há crianças a morrer sem acesso a cirurgia”, sublinha.
Em Gaza, Bruno Claro encontrou pessoas “bastante amáveis, sem culpa de terem crescido naquele meio” e “a viver como se estivessem numa prisão, pois toda a fronteira está rodeada por uma muralha”. “Depois da missão fiquei sozinho uns dias e fui visitar Jerusalém. No regresso, quando na segurança do aeroporto de Israel disse que estive dentro de Gaza, tive de passar umas horas em em interrogatório”, recorda.