Assim que a Comissão Europeia equacionou o aumento até 38% das tarifas sobre as importações de veículos eléctricos provenientes da China, a partir de Julho, Pequim anunciou que abriria uma investigação à carne de porco importada da União Europeia para saber até que ponto a carne europeia estará a chegar àquele país com um preço abaixo do valor normal do seu mercado interno.
Sob este clima de “guerra comercial”, David Neves, presidente da Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores, explica ao JL que impactos poderão ter retaliações daquele mercado quer na Europa, quer em Portugal.
“O nosso País conta actualmente com 4.545 explorações suinícolas, que [LER_MAIS]empregam dezenas de milhares de pessoas. Só em termos de produção, o sector regista um volume de negócios de 840 milhões de euros. Mas se for contabilizada toda a fileira, o valor ascende a 2,5 mil milhões de euros”, contextualiza David Neves. E o concelho de Leiria, destaca o presidente, é responsável por 18% da produção nacional.
É certo que as exportações de carne de porco de Portugal para a China são de apenas 10 milhões de euros, valor residual no conjunto total de exportações do sector, que se cifram em 160 milhões de euros, explica David Neves. Mas não é por isso que o efeito da China é menor no nosso País. Se aquele enorme mercado de consumo decidir deixar de comprar à Europa, para se abastecer noutras latitudes, como o Brasil, Espanha, que tem capacidade de 187% de auto-aprovisionamento e tem na Ásia o maior destino para os seus produtos, irá certamente aumentar a sua concorrência junto da nossa carne nacional, aponta o dirigente.
Porque a União Europeia considera “mais fácil ceder ao lobby dos eléctricos”, deveria criar um apoio à exportação de carne de porco, para que os produtores se mantivessem competitivos na eventualidade de a China passar a colocar taxas à entrada de carne de origem europeia, aponta David Neves.
E o caminho, entende, é que o mercado europeu passe a ser tão exigente com todos os produtos de origem asiática como é com os artigos produzidos na União Europeia, incluindo regras de bem-estar animal e direitos dos trabalhadores.