“Que faremos quando tudo arde?” A pergunta da companhia Formiga Atómica na nota que apresenta Terminal (O Estado do Mundo) transita para o Teatro Municipal de Ourém, onde, este fim-de-semana, decorre a estreia nacional do espectáculo encenado por Miguel Fragata, o segundo de um díptico em torno da crise climática iniciado em 2021 com O Estado do Mundo (Quando Acordas).
Quatro actores e dois músicos habitam o palco ao longo de aproximadamente uma hora e meia, diante de uma catástrofe anunciada. “Todos procuram saídas. Enquanto as inventam, adia-se o fim”.
Hélder Gonçalves (que assina a música do espectáculo) e Manuela Azevedo, dos Clã, juntam-se ao vivo com o elenco constituído por Anabela Almeida, Carla Galvão, Vasco Barroso e Miguel Fragata, a partir de um texto de Inês Barahona e Miguel Fragata que, por um lado, se concentra “na ideia da morte de uma certa visão da humanidade, que se encontra na devastação da natureza”, mas, por outro, procura “vislumbrar uma nova cosmogonia a emergir por força da ameaça da extinção humana”.
“O fim nunca vem separado do princípio”, diz Miguel Fragata durante a conversa com o JORNAL DE LEIRIA. Para o dramaturgo e encenador, “era importante” desaguar num objecto “não apaziguador”, e, pelo contrário, pretende-se que o público saia “inquieto”, ainda que “esperançoso”.
“Há aqui um posicionamento político, também”, comenta.
Conforme se pode ler na sinopse, Terminal “aponta para uma ideia de fim, mas aponta também para uma ideia de interface, de ligação para outra dimensão” e “outra linguagem”.
Durante o ano de 2023, o projecto alimentou um extenso processo de pesquisa no território, “laboratório ao longo de meses”, que permitiu determinar “como é que no País se olha para estas problemáticas” e ao mesmo tempo obter “uma amostra muito clara das apostas do poder local” e “das grandes transformações” ocorridas nas comunidades e “na paisagem” que “se reflectem na vida das pessoas” e afectam o dossiê ambiente, assinala Miguel Fragata, para quem não cabe ao teatro “dar respostas” mas antes “abrir hipóteses”, enquanto arte antítese da tecnologia que avança sobre o planeta.
Nesse sentido, Terminal (O Estado do Mundo) não apresenta “uma moral ou forma de olhar” nem a abordagem é “absolutamente directa”, oferece, em alternativa, um plano para “pensar a crise de valores e de imaginação que é também a crise climática” e “tem qualquer coisa de narrativa mitológica”, em que se identificam outros ângulos da actualidade, como a guerra e a polarização de opiniões.
Terminal (O Estado do Mundo) estreia este sábado, 6 de Abril, pelas 21:30 horas, com bilhetes a 7,50 euros.
Antes, pelas 18 horas, também no Teatro Municipal de Ourém, é apresentado o documentário Improváveis de Costas Voltadas, resultado de entrevistas feitas durante o trabalho de campo, no ano passado.