Depois de avanços e recuos, o projecto de alta velocidade está de volta aos carris da região, com a proposta apresentada na semana passada a colocar a cidade de Leiria a 40 minutos de distância de Lisboa e a 50 minutos do Porto.
De acordo com o anunciado pelo Governo e pela Infraestruturas de Portugal (IP), Leiria poderá ter nove serviços de TGV por dia, mas, ao contrário do que esteve previsto no passado, não será construída uma nova estação, com a solução a apontar para a ampliação e adaptação da actual à alta velocidade, à semelhança do que acontecerá em Aveiro.
A proposta apresentada pela IP preconiza a criação de um by pass a norte da estação de Leiria, na zona de Regueira de Pontes, e outro a sul, nas imediações do Telheiro, na freguesia Maceira. Nesses pontos, os comboios de alta velocidade sairão da linha dedicada e entram na do Oeste, cujas obras de modernização, em fase de projecto, prevêem a sua duplicação e o aumento de velocidade para os 160 quilómetros/horas.
“Os [comboios] que servem Leiria entram na Linha do Oeste, param na estação e voltam a entrar na linha de alta velocidade”, explicou Carlos Fernandes, do Conselho de Administração da IP durante a apresentação da proposta.
Região incluída na segunda fase
Leiria entrará na segunda fase do projecto do TGV, entre Soure e o Carregado, cujos estudos deverão avançar em 2023. De acordo com o cronograma agora divulgado, a meta é que no ano seguinte possa ser concluída da avaliação de impacto ambiental e que, em 2025, sejam lançados os concursos, seguindo-se a fase de execução, com a conclusão da obra apontada para 2030.
Para o presidente da Câmara de Leiria, Gonçalo Lopes, este investimento representará uma verdadeira revolução na nossa relação com a capital”, ao colocar Leiria a apenas 40 minutos de distância de Lisboa, cinco minutos a mais do que chegou a ser anunciado pelo ministro das Infraestruturas, que em 2020 apontou para uma viagem de 35 minutos. “É uma vitória a região ser contemplada com uma estação que lhe permitirá funcionará em rede com outras cidades”, salienta o autarca, que desvaloriza o facto de o projecto não contemplar uma estação própria em Leiria, como chegou a estar anunciado.
“A solução para Leiria e para Coimbra será em by pass, tendo em conta as necessidades previstas em termos de circulação para o território. No nosso caso, a estação será requalificada e adaptada para receber a alta velocidade. Acredito que responderá às necessidades”, alega.
Posição diferente tem António Poças, presidente da Nerlei – Associação Empresarial da Região de Leiria, que defende a construção de uma nova estação fora da cidade, eventualmente na zona da Barosa como chegou a ser apontado.
“O desvio para Leiria aumenta os tempos de viagem e reduz o número de comboios a parar na região. Uma coisa é atrasar os percursos dois ou três muitos para que seja feita a paragem, coisa diferente é demorar 10 a 15 minutos para efectuar o by pass”, assinala o dirigente, convicto que a construção de uma estação de raiz “até teria menos custos do que reabilitar e ampliar o edifício actual”.
António Poças adverte ainda para o facto de o acesso à actual estação ficar “facilmente congestionado com o tráfego” automóvel e que não existe no local espaço suficiente para estacionamento. “Temos de pensar nos impactos de atravessar a cidade para chegar à estação de Leiria. Na Barosa, facilitava-se o acesos a quem vive nos arredores. Este não é um projecto para servir uma cidade, mas uma região”, afirma.
Apesar desta divergência em relação à proposta apresentada, o presidente da Nerlei não tem dúvidas que a concretização da linha de alta velocidade terá um impacto “muito positivo” na região, nomeadamente na produtividade das empresas.
“Não sei se o horizonte de 2030 será cumprido, porque se trata de uma obra muita complexa, mas o importante é que se faça. Se estivesse a funcionar daqui a dez anos, seria muito bom”, diz António Poças.
“Certezas, só quando as obras começarem, mas já foi dado um passo muito importante, com a vontade política expressa de maneira muito clara, com o anúncio de trajectos, tempos de viagem e cronogramas”, reforça o presidente da Câmara de Leiria.
A nova linha de alta velocidade terá via dupla e ligará o Porto e Lisboa numa hora e 15 minutos. Ficará com capacidade para efectuar 60 serviços diários: 17 ligações directas entre a cidade Invicta e a capital, nove com paragens nas estações intermédias e 34 serviços híbridos, ou seja, parte em alta velocidade e parte na rede ferroviária convencional.