A Justdive, escola de mergulho de Peniche, juntou-se a várias empresas da região para criar um produto inovador. Pedro Ramalhete, CEO da escola, explica ao JORNAL DE LEIRIA que o amadurecimento subaquático de vinhos já vem sendo realizado no nosso País, de forma pontual.
No entanto, desta vez a Justdive registou e lançou a marca Underwater Wine & Tales, que é responsável por um processo inovador de amadurecimento subaquático de vinhos e de outras bebidas espirituosas. Neste novo processo, um oleiro local recria as antigas ânforas romanas, outrora usadas para armazenar garum (conserva de peixe da época), mas também vinho, azeite e cereais. E, com, recurso a produtos endógenos, outras empresas [LER_MAIS]produzem ginja de Óbidos, licor de Alcoentre e um gin composto por algas e zimbro de Peniche, cujas garrafas, devidamente seladas, são colocadas nas ânforas e depois depositadas no mar, ao largo do Arquipélago das Berlengas.
Pedro Ramalhete conta que, nesta fase de lançamento, foram produzidas 25 garrafas de cada uma destas bebidas. Com a designação de Licor Estelas, Ginja Berlenga e GIN Farilhões, estas “são a oportunidade ideal para conhecer a história local dos Fornos Romanos do Morraçal da Ajuda em Peniche, ao mesmo tempo que se degustam os aromas regionais”, refere o CEO da empresa que, com este projecto, visa “aliar a história náutica/marítima de Peniche – Berlengas com os produtos vinícolas da região”.
Os modelos de ânforas recreados, submersos durante 12 meses, mantêm no seu interior as garrafas seladas, protegidas de luminosidade, ao mesmo tempo que o contacto com o mar as enriquece de incrustações que lhes conferem a aparência de um achado arqueológico, salienta Pedro Ramalhete. A adesão tem sido boa, conta o CEO da Justdive, acrescentando que estão a decorrer conversações para que o produto (e o seu processo de fabrico) seja certificado como geoproduto do Geoparque Oeste, reconhecido como Geoparque Mundial da UNESCO.
Fornos do Morraçal
Os fornos do Morraçal, situados em Peniche, são um importante sítio arqueológico que remonta ao período romano. A olaria foi fundada por Lúcio Arvénio Rustico, um cidadão romano que terá iniciado a produção de ânforas para exportar garum e outros derivados piscícolas, como o peixe capturado no mar de Peniche, que era transformado em fábricas de conservas de peixe que por ali terão existido.
A sua localização estratégica perto da costa sugere que a produção cerâmica do Morraçal estava intimamente ligada ao comércio marítimo, facilitando a distribuição dos produtos através do Atlântico e das rotas mediterrâneas. Os fornos, de cerca de 2000 anos, revelam técnicas avançadas de fabricação cerâmica e mostram a influência das práticas romanas sobre a produção local.
Além disso, a presença desse tipo de infra-estrutura em Peniche sublinha a importância da região como um centro económico durante o domínio romano. As escavações no Morraçal têm proporcionado informação valiosa sobre o quotidiano romano, a economia e as redes comerciais na Península Ibérica, contribuindo significativamente para o estudo da arqueologia romana em Portugal.